Goleiro de Aluguel no Programa Balanço Geral Esporte
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09/05/2016“É Teste pra Cardíaco!”
“É teste pra cardíaco!”, talvez nunca antes o famoso bordão utilizado por Galvão Bueno fizesse tanto sentido diretamente pra alguém como no caso da muralha de hoje, por tudo que “o escolhido” viveu tanto dentro quanto fora dos gramados. O quadro hoje homenageia Manuel Almunia Rivero (Manuel é o nome dele, Almunia é o sobrenome herdado do pai e Rivero é o sobrenome herdado da mãe), ou Manuel Almunia, ou simplesmente Almunia, um goleiro espanhol nascido na cidade de Pamplona, mas que fez nome na Inglaterra e foi forçado a se aposentar precocemente, com apenas 37 anos de idade.
Almunia começou em 1995 na base do Oberena, um time da cidade de Pamplona que disputava (e ainda disputa) a terceira divisão espanhola e é totalmente ligado ao Osasuna. Almunia começou em 1995, mas a estreia profissional dele só viria a acontecer em 1997, quando ele já estava com 20 anos. Na temporada 1997/1998, Almunia foi o goleiro titular do Oberena, aonde fez um total de 31 jogos oficiais naquela temporada e assim seguiu-se para a temporada 1998/1999. Visto que o Oberena é um time ligado ao Osasuna (conhecido como “Osasuna B”), na temporada 1999/2000 Almunia foi transferido para a equipe principal, mas não chegou a atuar uma partida sequer por lá.
Sem espaço no Osasuna, Almunia foi emprestado ao FC Cartagena, outro time da terceira divisão espanhola e por lá, pouco atuara, jogou apenas três jogos até o fim do empréstimo e retorno ao Osasuna, aonde novamente Almunia foi emprestado a outro time da terceira divisão espanhola, o CE Sabadell, começando como reserva do goleiro Jordi, mas se tornou titular por dois motivos: o primeiro é que Jordi tinha uma relação péssima com o treinador da equipe, a segunda é que, por contrato, se Almunia não jogasse ao menos 25 jogos durante o empréstimo, o Sabadell deveria o comprar; aconteceu que, por estes motivos, Almunia tornou-se titular e jogou um total exato de 25 jogos pelo Sabadell. Apesar dos apesares, Almunia fez uma bela temporada pelo Sabadell, sendo o goleiro menos vazado da terceira divisão, mas a equipe não conseguiu o acesso à segunda divisão.
Com uma boa temporada pelo Sabadell e o contrato expirado com o Osasuna, Almunia simplesmente saiu do Osasuna e rumou para o Celta de Vigo sem que o novo clube pagasse um centavo pela transferência dele, algo que não é muito bem visto pelo clube de origem por motivos óbvios (uma história semelhante a que Ronaldinho Gaúcho fez com o Grêmio em 2001, quando após o fim do contrato com o tricolor gaúcho, ele rumou ao PSG e o Grêmio não ganhou um centavo na transação do craque). Entretanto, Almunia iria “trocar seis por meia dúzia” indo ao Celta, pois lá ele não teve oportunidades e acabou sendo emprestado como no Osasuna, desta vez ao Eibar, time da segunda divisão espanhola.
Por mais um ano, Almunia iria ser o goleiro menos vazado de uma competição, vencendo o Trofeo Ricardo Zamora da segunda divisão na temporada 2001/2002 atuando pelo Eibar (o Trofeo Ricardo Zamora é o prêmio dado ao goleiro menos vazado da primeira divisão espanhola desde 1959 e o prêmio também é concedido aos goleiros da segunda divisão desde 1987). Almunia iria voltar ao Celta de Vigo após uma temporada em empréstimo, e depois desta grande temporada pelo Eibar, nossa muralha finalmente iria ter chances na primeira divisão? Teria, mas não pelo Celta.
Na temporada seguinte, Almunia fora novamente emprestado pelo Celta, desta vez ao Recreativo de Huelva, time da primeira divisão espanhola, mas por lá, jogaria apenas dois jogos (um válido pela La Liga e outro pela Copa Del Rey), afinal fora emprestado, mas era a terceira opção. Na temporada 2003/2004, fora novamente emprestado, desta vez a outro time da primeira divisão espanhola, o Albacete: no primeiro momento ele seria reserva do também lendário Carlos Roa (goleiro já abordado aqui no quadro, na sétima edição), mas com uma lesão de Roa, acabou virando titular e aproveitou a oportunidade de maneira excelente, terminando a temporada como titular indiscutível e com 24 partidas na La Liga.
Depois de mais uma boa temporada, será que Almunia finalmente poderia ter oportunidade na primeira divisão espanhola em um clube de maior expressão? É… Não, parece que a Espanha não estava de braços muito abertos a Almunia, que depois de tantas andanças nestes clubes espanhóis teve a sorte mudada na carreira, aonde as atuações dele despertaram o interesse do nada mais nada menos que o gigante Arsenal da Inglaterra, que o contratou no ano de 2004, mas lá também, como nos outros clubes e em outras ocasiões já relatadas, seria o goleiro reserva, desta vez Almunia seria a segunda opção do alemão (e também lendário) Jens Lehmann.
A estreia de Almunia no Arsenal foi em uma partida contra o pequeno Manchester City (que até hoje é pequeno, mas com dinheiro) fora de casa válida pela League Cup, em que os gunners venceram por 2×1. Logo na primeira temporada da nossa muralha pelo Arsenal, o técnico Arsène Wegner iria dar a titularidade para Almunia nos torneios da League Cup e na FA Cup. Na quinta rodada da FA Cup, Almunia seria o herói dos gunners: no primeiro jogo, um empate em 1×1 com o Sheffield United, em que o empate dos adversários do Arsenal veio de pênalti aos 46 minutos do segundo tempo, ocasionando um segundo jogo (replay) para desempatar; no replay, outro empate, desta vez sem gols e a partida foi aos pênaltis, em que Almunia se tornara herói na vitória por 4×2 do Arsenal nas penalidades máximas após a nossa muralha defender duas cobranças. A partir da rodada seguinte da FA Cup, Wegner optou pelo time titular, inclusive o goleiro, aonde o “professor” começou a escalar Lehmann no lugar de Almunia; ao final, o Arsenal seria campeão do torneio em cima do Manchester United, também nos pênaltis, por 5×4 e com Lehmann defendendo uma cobrança que basicamente viria a dar o título ao Arsenal.
Na temporada seguinte, Lehmann faria história e deixaria uma marca na trajetória de todos os goleiros, mas principalmente na carreira de Almunia. O timaço do Arsenal, na temporada 2005/2006, chegou na grande final da UEFA Champions League e nesta partida teríamos o primeiro jogador a conseguir ser expulso em uma final de Champions em toda a história, e este jogador foi o goleiro Lehmann (sim, um goleiro): após Ronaldinho dar um belo passe a Eto’o e o deixar na cara do gol, Lehmann saiu e fez uma dura falta no camaronês, sendo expulso e com isto, Pirès saiu para entrada do reserva Almunia. O Arsenal iria sair ganhando com um gol de Gallas, mas depois sofrera a virada; o primeiro gol foi de Eto’o, a virada viria com um gol de… Eto’o de novo? Ronaldinho? Puyol? Deco? Xavi? Iniesta? Giuly? Não, seria um gol de Beletti aos 36 do segundo tempo, no final do jogo, gol de um lateral-direito de qualidade duvidosa que entrou no segundo tempo para decidir. Por sinal, Beletti atuou de 2004 até 2007 pelo Barcelona e só fez apenas um gol nestes anos, e este gol foi “apenas” o gol do título da UEFA Champions League 2005/2006. Apesar de sofrer a virada, Almunia não foi crucificado por ninguém, até porque o Arsenal aguentou quase a partida inteira com um a menos, o Barcelona era favorito e Almunia jogou bem a final, sendo “perdoado” na derrota. Esta foi a vez em que o Arsenal chegou mais longe em uma Champions League, sendo a única final disputada pelos gunners em toda a história, e que não ganharam o título que ainda não têm.
Na temporada 2006/2007, Almunia seguiu na reserva de Jens Lehmann, mas era titular na Football League Cup; neste torneio o Arsenal teve mais um vice, chegando na final contra o Chelsea e mais uma vez saíram ganhando e sofreram a virada no final do jogo, com um gol de Drogba aos 40 minutos do segundo tempo; nesta partida Almunia foi titular do início ao fim do jogo. Durante a temporada 2007/2008, Lehmann estava a ter atuações ruins debaixo das traves do Arsenal, isto fez com que Wegner passasse a titularidade de goleiro dos gunners para as mãos de Almunia, que não fez feio e assumiu de todo a titularidade do Arsenal; Lehmann voltaria a jogar na Alemanha ao final daquela temporada, sendo vendido ao VfB Stuttgart.
Em 2009, Almunia conseguiu dupla cidadania, afinal haviam se passados cinco anos que ele já estava morando na Inglaterra e teve o direito de conseguir cidadania inglesa. Com as boas atuações que ele estava a ter no Arsenal, abriu-se um debate sobre convocá-lo para seleção da Inglaterra, e mesmo parecendo que Almunia seria chamado, ao final das contas ele nunca chegou a ser convocado nem para a seleção inglesa nem para a seleção espanhola, tendo a carreira 100% centrada em clubes, nunca disputando partidas internacionais nem pela seleção da Espanha nem pela seleção da Inglaterra.
De 2008 até 2010, Almunia ficou a frente do Arsenal, tendo as titularidades incontestáveis dos gunners, mas a perderia em 2010 após sucessivas lesões que estava a sofrer, tanto é que Almunia jogou apenas catorze partidas na temporada 2010/2011; sem contar que o reserva Szczesny estava em boa forma e o substituindo bem. Na temporada seguinte, já sendo reserva, foi emprestado pelo Arsenal ao West Ham United para substituir Robert Green, que havia se lesionado e passaria seis semanas fora: Almunia jogou apenas quatro jogos com o West Ham e retornou ao Arsenal após a recuperação de Green. Na volta aos gunners, Almunia não jogou um jogo sequer com o Arsenal, rescindindo o contrato em maio de 2012, após oito anos como goleiro dos gunners.
Um mês depois de rescindir o contrato, Almunia assinou com o Watford, time da segunda divisão inglesa, para a temporada 2012/2013, aonde Almunia viria para substituir o então goleiro titular Scott Loach, que havia sido vendido para o Ipswich Town. A Football League Championship (ou “segunda divisão inglesa”) tinha o seguinte regulamento: 24 equipes em que todos os times jogariam contra todos os outros em partidas em casa e fora, os três piores colocados seriam rebaixados para a Football League One (terceira divisão da Inglaterra), os dois melhores classificados garantiam automaticamente o acesso e o terceiro, quarto, quinto e sexto colocado iriam disputar play-offs aonde o vencedor destes quatro seria o time que também garantiria o acesso à primeira divisão na temporada seguinte.
O Watford de Almunia terminou em terceiro lugar, dois pontos atrás do Hull City, o segundo colocado; com isto eles teriam de disputar os play-offs do acesso em partidas de semifinal e final em jogos de ida e volta. A primeira partida seria contra o sexto colocado geral, o Leicester City, e nesta fase acontecera um verdadeiro “teste pra cardíaco”. A primeira partida, no Leicester Stadium, o time da casa venceu por 1×0 e seria necessário reverter o resultado na volta em casa: o Watford saiu ganhando, sofreu o empate, mas fez o segundo, o placar agregado apontava 2×2 até que aos 50 minutos (sim, isto mesmo) da segunda etapa, o árbitro anotou um pênalti para o Leicester City, podia ser o fim de tudo… Knockaert foi para cobrança e Almunia defendeu com o pé, no rebote, Knockaert parou de novo na nossa muralha de hoje, o time do Watford puxou o contra-ataque e um bate-rebate, a bola sobrou para Deeney fazer 3×1 e o resultado foi muita emoção, Deeney foi para a torcida, que comemorou muito e até invadiu o gramado na felicidade! A final dos play-offs seria disputada em jogo único no Wembley Stadium contra o Crystal Palace, que venceu a final e foi promovido à primeira divisão após vencer o Watford de Almunia por 1×0, com um gol de pênalti na prorrogação.
Almunia renovou contrato por mais um ano com o Watford, que desta vez não iria longe na segunda divisão inglesa, terminando em 13º lugar, nem subindo, nem disputando pra subir, nem sendo rebaixado; terminou na chamada “zona do agrião”. Na temporada 2014/2015, Almunia iria a se transferir para o Cagliari, time da primeira divisão italiana, mas ele iria passar por outro “teste pra cardíaco”, desta vez com ele mesmo: Almunia fora reprovado nos exames médicos do Cagliari, sendo diagnosticado com um grave problema no coração que o forçaria a aposentar as chuteiras e as luvas naquele momento da carreira, já estava em idade avançada (37 anos), mas poderia estar na ativa até hoje senão fosse a grave doença no coração. Aposentadoria de 37 anos para um jogador é comum, mas para um goleiro é algo relativamente cedo, afinal goleiros costumam se aposentar por volta dos 40 anos.
E esta foi a nona edição do Muralhas Lendárias aqui no blog oficial do Goleiro de Aluguel! Hoje o quadro abordou a carreira de um goleiro espanhol naturalizado inglês, de Manuel Almunia, que fez nome debaixo das traves do Arsenal, fez história também com o Watford em um jogo lendário e que poderia estar na ativa até hoje, mas tal fato é impossível devido a um problema no coração que nossa muralha tem. Semana que vem o quadro volta abordando a carreira de mais um lendário goleiro, não se esqueçam de acompanhar o blog, o quadro e o projeto Goleiro de Aluguel! Até sexta-feira que vem.
(Antes que digam algo: a Premier League é um grande campeonato, mas não tanto quanto o Brasileirão e não, não tenho simpatias pelo Arsenal, afinal já é a segunda vez que em um curto tempo de quadro que é abordado a carreira de um goleiro que se fez nos gunners. As ideais simplesmente surgiram por coincidência, não é fanatismo clubista vindo do quadro por parte do Arsenal nem pela Premier League, afinal semana passada também foi abordada a carreira de Dudek, outro goleiro histórico na Premier League. O clubismo e fanatismo tanto aqui no Muralhas Lendárias quanto no Goleiro de Aluguel é – ou pelos menos procura ser – zero).
Melhores momentos de Manuel Almunia pelo Arsenal:
1 Comment
Meu amigo, que momento lendário que você recordou! O texto honra Almunia; tem mais a ver com Watford que com Arsenal hahaha. BELA HISTÓRIA!