Treine na W12, escola do goleiro da seleção!
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01/11/2016Duro com os Atacantes e com as Palavras
Sinceridade, é algo que pode te levar do céu ao inferno. Uma coisa que todos procuram nas outras pessoas é o fato das mesmas falarem a verdade, mas às vezes é melhor seguir aquele ditado do “boca fechada não entra mosquito”, como é o caso do goleiro abordado de hoje. Não são poucas as histórias de jogadores que deixaram de ser convocados por conta de atitudes irresponsáveis, na própria seleção brasileira mesmo, quando Renato Gaúcho deixou de ser convocado para a Copa do Mundo de 1986 por não ter respeitado o toque de recolher imposto pelo técnico Telê Santana, ficando de fora por extrapolar limites de baladas e festa, ou também Romário, pelo seu jeito marrento e má relação com Zagallo e também com o amigo do velho lobo, Carlos Alberto Parreira, nunca iria disputar a Copa do Mundo de 1994 se o Brasil não tivesse em situação desesperadora nas eliminatórias e se o mesmo não fosse o principal jogador para a função de fazer gol. O caso de hoje com Illgner aconteceu após uma dura entrevista do mesmo, que vamos tocar mais pra frente.
Bodo Illgner nasceu em 07 de Abril de 1967, na cidade alemã de Koblenz (da antiga Alemanha Ocidental, hoje reunificada), depois mudou-se para Westerburg e depois para Bonn. Começou no futebol logo aos seis anos de idade no 1. FC Hardtberg para jogar futebol e por lá ficou dez anos, até se transferir em 1983 para o tradicional Colônia. Na base do time, Illgner iria ficar até 1985, quando se profissionalizou ao final daquela temporada, aos 18 anos. A estreia de Illgner em um jogo profissional foi em um momento bastante controverso, sendo no dia 22 de fevereiro de 1986, em uma partida contra o Bayern de Munique: estreou após o também lendário goleiro Harald Schumacher ter sido expulso, depois do mesmo ter cometido um pênalti. A partida se encontrava 2×1 para o Bayern e viria a terminar 3×1, pois Lottar Matthäus converteu a penalidade. Na semana seguinte, Illgner iria estrear como titular de uma partida, estreando contra o VfB Stuttgart em casa, em que o Colônia venceu por 2×1; no próximo jogo do campeonato, Schumacher iria voltar a titularidade do Colônia.
Na temporada 1987/1988, Illgner viria a se tornar titular do Colônia após Schumacher ter sido dispensado do time por causa de polêmicas, quando na autobiografia “Apito inicial: abrindo o jogo sobre o futebol alemão” ele soltou que pelo menos nove décimos dos jogadores alemães chegavam dopados na seleção. Com isto, Illgner assumiu de vez a titularidade do Colônia.
Até então, Illgner era um nome comum nas seleções de base da Alemanha Ocidental, inclusive ele fora campeão da Eurocopa Sub-16 (era Sub-16 até 2001, a partir de 2002 virou Sub-17) após vencerem nas semifinais por 5×1 a Iugoslávia e por 2×0 a extinta União Soviética na finalíssima. Além disto, como reserva de Schumacher, Illgner havia conquistado apenas um vice-campeonato da UEFA Cup (atual UEFA Europa League) de 1985/1986, após perderem para o Real Madri na final.
Na primeira temporada como titular do Colônia, Illgner surpreendeu a todos com boas atuações, maturidade e muita segurança. Nesta temporada, o Colônia iria terminar em terceiro lugar na Bundesliga, atrás do Bayern de Munique e do campeão Werder Bremen. As boas atuações de Illgner lhe renderam a primeira convocação para a seleção principal da Alemanha Ocidental pelo então técnico Franz Beckenbauer: a estreia de Illgner na seleção da Alemanha Ocidental foi em um amistoso contra a Dinamarca em 23 de setembro de 1987, em que a Alemanha venceu por 1×0.
Ao final desta temporada, Illgner já iria participar do primeiro torneio internacional com a seleção alemã, a Eurocopa de 1988, mas neste torneio ele seria reserva de Eike Immel, goleiro do Stuttgart. A Alemanha Ocidental iria passar da primeira fase após empatar com a Itália em um gol e vencer a Espanha e a Dinamarca, ambas por 2×0. Mas seriam eliminados nas semifinais após perderem de virada para os holandeses por 2×1, equipe que viria a ser campeã do torneio.
Na temporada seguinte, o Colônia participou da UEFA Cup e não fora muito longe, após eliminarem na primeira fase o Royal Antwerp FC, da Bélgica, vencendo a ida fora de casa por 4×2 e a volta em casa por 2×1, eliminaram o Rangers, da Escócia, na segunda fase após vencer a ida em casa por 2×0 e a volta em casa por 1×1, mas iriam cair nas oitavas-de-final para o Real Sociedad, da Espanha, depois de perder a ida fora de casa pelo placar mínimo e empatar em casa por dois gols. Na Bundesliga, o Colônia foi longe, terminou em segundo lugar, ficando atrás somente do Bayern de Munique, que terminou cinco pontos à frente do Colônia.
Na jornada de 1989/1990, o Colônia de Illgner seria eliminado nas oitavas-de-final da DFB-Pokal (que seria a “Copa da Alemanha”, torneio semelhante a Copa do Brasil) após eliminar o VfR Sölde na primeira fase e o SV Arminia Hannover na segunda ronda, os mesmos seriam eliminados pelo 1. FC Kaiserslautern nas oitavas-de-final, após perderem por 2×1 (partida única, se a partida terminasse empatada, teria segundo jogo, algo semelhante a FA Cup na Inglaterra). O mesmo Kaiserlautern seria campeão desta DFB-Pokal. Na Bundesliga, o que havia acontecido uma temporada antes, se repetira, pois o Colônia, mais uma vez, seria vice do Campeonato Alemão para o Bayern de Munique, agora com uma diferença de seis pontos. Na UEFA Cup, foram longe, mas não ficaram com o título: na primeira fase eliminaram o TJ Plastika Nitra, da República Tcheca, após venceram a ida em casa por 4×1 e a volta fora por 1×0. Na segunda fase, após vencer por 3×1 a ida em casa, eliminariam o Spartak Moscou da extinta União Soviética (hoje time da Rússia) ao empatar fora de casa sem gols. Nas oitavas-de-final, eliminariam o Estrela Vermelha da antiga Iugoslávia (hoje, time da Sérvia) após perderem a ida por 2×0 e vencer por 3×0 a volta em casa. Nas quartas-de-final, eliminaram o Royal Antwerp, da Bélgica, após vencer em casa por 2×0 e empatar sem gols fora, se classificando para as semifinais, fase em que foram eliminados para a Juventus após perderem a ida em casa por 3×2 e empatar sem gols a volta (a Juventus iria se sagrar campeã, ganhando a final sobre a Fiorentina).
Ao término desta temporada, Illgner iria participar da primeira Copa do Mundo da carreira, de 1990, e já seria o goleiro titular da seleção. A Alemanha Ocidental caiu no Grupo D junto com os Emirados Árabes Unidos, Colômbia e Iugoslávia e iriam passar de fase em primeiro lugar na chave após vencer a Iugoslávia por 4×1, os Emirados Árabes Unidos por 5×1 e empatar em um gol com a Colômbia. Nas oitavas-de-final, a Alemanha iria eliminar a Holanda, vencendo por 2×1 e avançando de fase. Nas quartas-de-final, a extinta Tchecoslováquia seria a vítima dos alemães, os alemães os venceram pelo placar mínimo para passar de fase. Nas semifinais, contra a Inglaterra, a Alemanha Ocidental sairia ganhando depois de uma falha bisonha do goleiro Peter Shilton, mas em um chute indefensável de Lineker, sofreram o empate, que seguiu-se na prorrogação e a vaga na final fora decidida nos pênaltis; a Alemanha Ocidental de Illgner para a final se classificara após vencer na disputa de pênaltis por 4×3, sendo que os canhotos ingleses Pearce e Waddle erraram as cobranças (Illgner defendeu com os pés a cobrança de Pearce e Waddle chutou por cima). A final seria contra los hermanos argentinos, que haviam eliminado a Itália de Walter Zenga nos pênaltis também, e a Alemanha Ocidental foi campeã após uma vitória por 1×0. Com este resultado, Illgner se tornara o primeiro goleiro da história das Copas do Mundo a não sofrer gol em uma final do torneio, algo que se tornara frequente nas competições seguintes.
Na temporada 1990/1991, não renderia tanto sucesso a Illgner, pois o Colônia iria terminar apenas em sétimo lugar na Bundesliga, com uma campanha bastante mediana, e na UEFA Europa League, iriam apenas passar das fases prévias, até serem eliminados pelo Atalanta, da Itália, nas oitavas-de-final. O único torneio que o Colônia foi longe, foi na DFB-Pokal, em que após eliminar o Wolfsburg e o Kaiserslautern nas fases prévias, o SV Meppen nas oitavas-de-final, o VfB Stuttgart nas quartas e o MSV Diusburg nas semifinais, o Colônia iria chegar na final contra o Werder Bremen: após empatar em um gol, a final fora decidida nos pênaltis e o primeiro título de Illgner com a camisa do Colônia iria bater na trave, pois o Bremen vencera a disputa de pênaltis por 4×3 (Illgner chegou a defender um pênalti, mas o goleiro Reck, do Bremen, iria defender o pênalti de Littbarski enquanto Rudy, outro jogador do Colônia, iria chutar para fora, sendo crucial na derrota).
No meio desta temporada, no dia 03 de outubro de 1990, a Alemanha voltara a ser uma só, o território da então Alemanha Oriental seria anexado com o território Ocidental e a ambos os lados voltariam a estarem juntos como um todo. A partir de então, os torneios em que a Alemanha iria participar, seria de maneira unida.
Na temporada 1991/1992, o Colônia não disputou torneios internacionais, disputando apenas a Bundesliga e DFB-Pokal, sendo que fora eliminado ainda na primeira fase da DFB-Pokal, sendo eliminados pelo Bayer Leverkusen e na Bundesliga viriam a terminar em quarto lugar, em uma Bundesliga marcada pela diferença, pois em uma das poucas vezes, a primeira divisão reuniu 20 times, os 18 já garantidos e mais os dois primeiros colocados da DDR-Oberliga (campeonato da Alemanha Oriental) de uma temporada anterior, sendo os times do 1. FC Dynamo Dresden e o FC Hansa Rostock. Talvez por conta de anos de um regime fechado, o futebol na região da Alemanha Oriental tenha pouca expressão, sendo que nas temporadas da Bundesliga, de lá pra cá tem, esta região tem poucos ou nenhum times integrando a primeira divisão alemã.
No meio daquele ano, a Alemanha, agora reunificada, iria disputar a Euro. A Alemanha iria cair no Grupo 02 junto com a Holanda, Escócia e a CEI (Comunidade dos Estados Independentes, que era uma organização supranacional envolvendo onze países que pertenciam a agora extinta União Soviética). A Alemanha iria se classificar em segundo lugar no grupo após empatar em um gol com a CEI na estreia, vencer a Escócia por 2×0 no segundo jogo e perder por 3×1 para os holandeses, terminando assim em segundo lugar no grupo e se classificando para as semifinais, fase em que eliminaram os suecos, donos da casa, ao vencê-los por 3×2. Na final, Illgner seria vazado duas vezes pelos dinamarqueses e a Alemanha perdera por 2×0, em uma partida que o também lendário Peter Schmeichel defendeu até pensamento.
A temporada 1992/1993 seria desastrosa para Illgner e para o Colônia, que faria uma má temporada, sendo eliminados ainda na fase prévia da DFB-Pokal, seriam eliminados apenas na primeira fase da UEFA Cup e iriam terminar apenas em 12º lugar na Bundesliga. Na temporada 1993/1994, igualzinho, foram eliminados ainda na prévia da DFB-Pokal, quando perderam para o Bayern de Munique e terminaram apenas em 11º lugar na Bundesliga. Apesar da queda de rendimento do time, Illgner continuou com boas atuações e seguiu como titular da seleção alemã até a Copa do Mundo de 1994.
A Alemanha iria cair no Grupo C, junto com Coréia do Sul, Bolívia e a Espanha de Zubizarreta, e iriam terminar em primeiro lugar na chave após vencer a Bolívia por 1×0, a Coréia do Sul por 3×2 e empatar em um gol com a Espanha. Nas oitavas-de-final, a Alemanha eliminara a Bélgica ao vencê-los por 3×2, mas seriam eliminados nas quartas-de-final para a surpreendente Bulgária, após perderem de virada para os búlgaros por 2×1.
A Alemanha veio como uma das grandes favoritas ao título nesta Copa do Mundo, mas estava com problemas no vestiário e o próprio Illgner, após a partida, acabou criticando publicamente o então técnico da seleção alemã, Berti Vogts. Mesmo com a eliminação, Vogts continuou no comando da seleção alemã e Illgner nunca mais seria convocado (Illgner poderia ser facilmente goleiro da Alemanha por mais uma ou até duas Copas do Mundo, afinal, na Copa do Mundo de 1994, ele tinha apenas 27 anos).
Pelo Colônia, Illgner ficou até a temporada 1995/1996, sendo que o máximo que conseguiu foi chegar na semifinal da DFB-Pokal de 1994/1995. Na temporada 1996/1997, após treze anos de caminhada, ele iria rumar ao Real Madri e por lá ficaria até encerrar a carreira. Logo na primeira temporada, Illgner iria conquistar a LaLiga junto com um Real Madri treinado por Fabio Capello, após 27 vitórias, onze empates e quatro derrotas e também venceu a Supercopa de España sobre o Barcelona, após perderem a ida no Camp Nou por 2×1 e vencer a volta em casa por 4×1.
Em 1997/1998, Illgner iria disputar a primeira UEFA Champions League da carreira. O Real Madri caiu no Grupo D, junto com o Rosenborg da Noruega, o Olympiacos da Grécia e o Porto de Portugal e iriam passar de fase após terminar em primeiro na chave, vencendo quatro partidas, empatando uma e perdendo outra (derrota para o Rosenborg, a única derrota merengue neste torneio). Nas oitavas-de-final, o Real Madri iria eliminar o Bayer Leverkusen, após empatar a ida em um gol na Alemanha e vencer em casa por 3×0. Nas semifinais, a vítima foi mais uma equipe alemã, o Borussia Dortmund (que eram os atuais campeões da UEFA Champions League) ao vencerem a ida por 2×0 em casa e empatar na Alemanha sem gols. A final fora contra a Juventus (que chegava pela terceira vez seguida em uma finalíssima de Champions League na altura, sendo campeões na primeira vez e vice na segunda vez): o Real Madri de Illgner se sagrou campeão após vencer o time de Turim por 1×0, trazendo o título de melhor clube europeu ao Real Madri 32 anos depois. Ao final daquele ano, o Real Madri também foi campeão mundial, ao derrotar no Japão um time brasileiro, o Vasco da Gama, por 2×1.
Nos campeonatos espanhóis (LaLiga e Copa Del Rey), o Real não foi muito bem, mas estava com glórias maiores reservadas na Europa e no mundo.
Na temporada 1998/1999, o Real Madri não conseguiu títulos, terminando na vice colocação do Campeonato Espanhol e sendo eliminado de forma surpreendente para o Valência nas semifinais da Copa Del Rey. Por que de forma surpreendente? Porque o Valência, mesmo começando o auge do final dos anos 90 e começo dos anos 2000, com aquela fantástica equipe do também lendário goleiro Cañizares, assim como também outros grandes jogadores tais como Mendieta e Cláudio López, eles não eram os favoritos para passar, mas passaram, e ainda por cima chegaram a meter na partida de ida das semifinais um histórico 6×0 sobre o Real Madri de Illgner, mesmo vencendo por 2×1 na volta, não fora suficiente para os merengues passarem para a final: o Valência seria o campeão da Copa Del Rey sobre o Atlético de Madri, e também vencera a Supercopa de España ao término daquela temporada.
Nesta mesma temporada, uma série de lesões começaram a acompanhar Illgner, que, na temporada 1999/2000, começou a ser substituído pelo também lendário e ainda na ativa Iker Casillas, que na época só tinha dezoito anos. Como reserva no Real Madri, Illgner ainda se sagrou campeão da UEFA Champions League 1999/2000 e da LaLiga de 2000/2001. Ao término da temporada 2000/2001, principalmente devido às lesões que tanto passaram a incomodar e com 34 anos (não muito velho para um goleiro), Illgner decidiu aposentar as luvas e se retirar.
E esta foi a vigésima-segunda edição do Muralhas Lendárias aqui no blog oficial do Goleiro de Aluguel! Após algum tempo aqui, quero agradecer a todos que semanalmente vêm acompanhando o quadro e comentando nos artigos, principalmente em nossa página do Facebook. Quero dedicar e agradecer neste artigo especialmente ao Samuel Toaldo, que tantas oportunidades já me deu no Goleiro de Aluguel, sendo este quadro a primeira de muitas, ao Eugen Braun, que também está nesta caminhada e me ajudou neste artigo traduzindo várias coisas da língua alemã ao Português e ao amigo e também colunista deste blog, Thiago Merigui, que já me disse ser fã do Illgner e que toda semana está junto comigo nesta caminhada, escrevendo artigos para este blog. Sem mais delongas, espero que vocês tenham gostado e semana que vem, o blog volta abordando a carreira de mais um lendário goleiro. Até sexta que vem!
ALEMANHA 1(4)X(3)1 INGLATERRA (SEMIFINAL DA COPA DO MUNDO DE 1990):
ALEMANHA 1X0 ARGENTINA (FINAL DA COPA DO MUNDO DE 1990):
REAL MADRI 1X0 JUVENTUS (FINAL DA UEFA CHAMPIONS LEAGUE 1998/1999):