Europa Debaixo das Traves #6 – Gianluigi Donnarumma
01/06/20161º Treinamento da Escuela de Porteros em Mali
06/06/2016Fica Instituído o “Dia de São Marcos”
Edição 12, nada melhor que falar do maior ícone usando a camisa 12, um homem que de tantas defesas milagrosas salvando o Palmeiras, virou um “santo”: Marcos Roberto Silveira Reis, ou simplesmente Marcos, ou melhor, “São” Marcos para os mais íntimos, que fez história no Palmeiras, jogando 100% em Palestra Itália e que, provavelmente, é o maior ídolo da história do clube, sendo bastante vitorioso no Palmeiras e decisivo para a conquista de importantes títulos.
Marcos nasceu na cidade de Oriente, uma pequena cidade de São Paulo, em 04 de Agosto de 1973. Começou a carreira juvenil aos 17 anos, no time do CA Lençoense/Bariri, de Lençóis Paulistas e por lá ficou apenas dois anos, quando foi contratado pelo Palmeiras. Enquanto goleiro do Lençoense, Marcos chegou a ser emprestado às categorias de base do Corinthians, arquirrival do Palmeiras, mas por lá ficara por três meses e não jogou uma partida sequer, retornando ao Lençoense e nem tendo o nome documentado no Corinthians. O preparador físico do Lençoense da época, João Sérgio de Morais, revelou em uma entrevista ao SporTV:
Ele ficou três meses só treinando (no Corinthians). Um dos diretores do Alvinegro tinha um filho que jogava na equipe e, por isso, engavetaram os documentos do Marcos para ele não jogar a Copa São Paulo de Futebol Júnior. Então, o Marcos me ligou e pediu para eu buscá-lo. Eu fui lá, e esse diretor passou e ouviu o Marcos falar para ele: “Estou indo embora para Lençóis, mas eu vou ser jogador de futebol e vou jogar contra o Corinthians”.
No Palmeiras, Marcos estreou na equipe Sub-20 em 02 de Maio de 1992, em um empate em 2×2 contra o Santos. A estreia no time principal viria a acontecer dias depois, em um amistoso contra a Esportiva Guaratinguetá, em que terminou 4×0 para o Palmeiras, mas Marcos era o reserva ocasião. A segunda partida da carreira foi contra o XV de Jaú, válida pelo Paulistão de 1992, depois de substituir o também lendário e ídolo palmeirense Velloso.
Marcos fora campeão do Paulistão e do Brasileirão em 1993 e 1994 esquentando o banco e só começara como titular em uma partida apenas em 1996, contra o Botafogo de Ribeirão Preto, em partida válida pelo returno do Campeonato Paulista, em que o Palmeiras venceu por 4×0 e, logo na estreia como titular, Marcos defendeu um pênalti; depois da defesa, Marcos fez a comemoração que o caracterizaria pelo resto da carreira: se ajoelhou e levantou os dedos ao céu. O Palmeiras foi campeão paulista neste ano, ganhando o turno e o returno com o “ataque dos 102 gols”, mas Marcos seguira na sombra de Velloso no torneio.
Ainda na “sombra” de Velloso, Marcos foi campeão da Copa Mercosul e da Copa do Brasil em 1998, este último título garantiu ao Palmeiras vaga na Libertadores do ano seguinte, ano que Marcos se tornara titular absoluto. E você pergunta: em que torneio Marcos, ainda um talento a ser desenvolvido, se tornara titular no lugar do ídolo lendário Velloso? Foi nada mais nada menos que na Libertadores de 1999, em que Velloso se lesionou e Marcos agarrou como ninguém a oportunidade de se tornar titular e por lá faria história com a camisa 12 que tanto o consagrou.
O Palmeiras caiu no Grupo 03 da Libertadores, que contava com Corinthians (Palmeiras e Corinthians eram os dois clubes brasileiros do grupo), Cerro Porteño e Olimpia (dois clubes paraguaios). O Palmeiras já havia jogado quatro rodadas da Libertadores, tendo vencido duas partidas (1×0 sobre o Corinthians em casa e 5×2 sobre o Cerro Porteño fora) e perdido outras duas (Corinthians 2×1 e Olimpia 4×2, ambas fora de casa), então Velloso viria a se lesionar e Marcos seria o novo titular na equipe comandada por Felipão na quinta rodada da Libertadores em diante: a primeira partida foi contra o Cerro Porteño em casa, uma vitória por 2×1 e um empate em casa com o Olimpia, por 1×1. Estes resultados fizeram com que o Palmeiras passasse em segundo no grupo e se classificasse para a fase de mata-mata.
Nas oitavas-de-final, contra o atual campeão, Vasco da Gama, o Palmeiras empatou a primeira partida em casa no placar de 1×1 e foi buscar o resultado fora de casa por incríveis 4×2. Nas quartas-de-final, Marcos iria se mostrar o santo milagreiro para o continente sulamericano inteiro, pois na primeira partida, uma vitória do Palmeiras em casa por 2×0 em que Marcos pegou até pensamento no jogo, sendo o principal nome da partida; na volta, o Corinthians retribuiu os 2×0, com isto o jogo foi para os pênaltis e Marcos brilhou de novo, defendendo o pênalti de Vampeta que ajudou o Palmeiras na vitória por 4×2 na disputa por pênaltis e na classificação para as semifinais.
As semifinais foram contra o River Plate da Argentina, o primeiro jogo foi lá na terra do hermanos, com uma vitória do River por 1×0, e só não foi mais porque Marcos defendeu muita bola o jogo inteiro; a classificação seria do Palmeiras, pois, na volta, o verdão buscou o resultado e venceu por 3×0, se classificando para a final da Libertadores de 1999 contra o Deportivo Cali. No primeiro jogo na Colômbia, 1×0 para o time da casa, na volta aqui no Brasil, Evair abrira o placar cobrando pênalti, Zapata empatara para o Cali em pênalti também, mas Oséas fez o segundo e levou a final para a decisão em penalidades máximas.
O experiente Zinho se encarregou de cobrar o primeiro e iniciar a série, mas errou mandando a bola no travessão, Dudamel, goleiro do time colombiano, bateu o primeiro do Cali e fez. Júnior Baiano, Roque Junior e Rogério marcaram para o Palmeiras, assim como Gavíria e Yepes para o Cali. Na quarta cobrança do Deportivo Cali, a torcida palmeirense inteira começou a gritar “fora!” para Bedoyá, que cobrou e acertou a trave, não foi o Marcos que defendeu nem para fora, mas não entrou e igualou o placar. Euller bateu o quinto pênalti e fez, na última cobrança, Zapata, o que fez o gol do Cali no jogo, capitão, mas que não jogou futebol nenhum além de fazer muitas faltas, foi para a cobrança com a torcida e até a comissão técnica do Palmeiras gritando “fora!” para ele; Zapata correu, bateu e de fato, chutou pra fora, dando o título inédito ao Palmeiras, talvez o título mais importante da história palmeirense.
Não bastasse isto, Marcos arremataria títulos pessoais, sendo, além de campeão, eleito: melhor jogador (algo muito difícil para um goleiro, sendo que Marcos foi o único goleiro da história da Libertadores a ser eleito o melhor jogador da competição), melhor goleiro, jogador revelação e melhor jogador da final. Entretanto, aquele ano repleto de conquistas, guardara uma mancha na carreira de Marcos, talvez a maior de todas, quando na final do Mundial de 1999 contra o Manchester United, o Palmeiras perdeu por 1×0 para os ingleses jogando melhor, mas no gol do Manchester, Marcos falhou feio, não achando o cruzamento de Giggs que originou o gol de Keane.
Ainda em 1999, Marcos recebera chances na seleção brasileira, mas sendo o reserva do também lendário Dida quando o técnico ainda era Vanderlei Luxemburgo e Marcos foi, mesmo sendo reserva, campeão da Copa América em 1999. Como o Brasil estava a ir mal nas eliminatórias, Luxemburgo foi demitido e quem assumiu foi Felipão, que confiava a vida no Marcos e o tornou titular. Em 2000, Marcos foi campeão do torneio Rio São-Paulo em cima do Vasco da Gama, após vencer os dois jogos da final (a ida por 2×1 e a volta por 4×0), mas o Vasco se vingara na Copa Mercosul daquele ano, após vencer a final sobre o Palmeiras por 4×3 em uma virada histórica.
Por ter sido campeão em 1999, o Palmeiras ganhou vaga automaticamente para a Libertadores de 2000, em que quase repetiu o feito de um ano antes. O Palmeiras caiu no Grupo 07 e passou em primeiro lugar na chave que continha El Nacional, The Strongest e Juventude (sim, o clube brasileiro de Rio Grande do Sul, que conquistou vaga após título da Copa do Brasil um ano antes). Nas oitavas-de-final contra o Peñarol, uma derrota no Uruguai por 2×0, mas o Palmeiras fez 3×1 aqui no Brasil e mandou a decisão para os pênaltis (o Peñarol teve um gol legítimo anulado e Euller perdeu um pênalti durante o jogo, lembrando também que não tinha a ridícula regra dos gols fora). Na decisão por pênaltis, Euller perdera mais um pênalti, mas além de Pacheco chutar na trave, Marcos ainda defendera os pênaltis de Aguirregaray e Cedrés, que deram a vaga ao Palmeiras.
Nas quartas-de-final contra o Atlas, passou fácil, com uma vitória por 3×2 na ida e 3×0 na volta. As semifinais foram contra o arquirrival Corinthians, e Marcos brilhara mais uma vez. A ida terminara 4×3 para o Corinthians e o Palmeiras reverteu na volta por 3×2, levando a disputa para os pênaltis: o Palmeiras tinha batido os cinco da série e convertido todos, o Corinthians se encaminhava para o último pênalti da série com Marcelinho Carioca, sendo que havia convertido os outros quatro; Marcelinho (que todos sabem da qualidade que ele tinha com bolas paradas) foi para cobrança e Marcos pegou, garantindo o Palmeiras na final contra o Boca Juniors.
Contra o Boca, os pênaltis iriam trair o Palmeiras, pois o primeiro jogo da final foi na Bombonera e terminou empatado em 2×2, na volta, no Morumbi, terminou 0x0 e foi aos pênaltis, em que o Boca converteu todos e o Palmeiras iria parar no também lendário Córdoba por duas vezes, primeiro com Asprilla e depois com Roque Júnior, e os argentinos viriam a ser campeões vencendo nos pênaltis por 4×2.
Em 2001 não teria tanta história para Marcos, apenas um fato marcante: o único gol da carreira de São Marcos, em uma partida entre Palmeiras x Inter de Limeira válida pelo Campeonato Paulista, em que o regulamento do campeonato consistia que todos os jogos terminados em empate iriam para disputa de pênaltis. Marcos foi um dos cobradores e converteu a penalidade dele, entretanto o Palmeiras perdera a disputa por 13×12.
Além disto, Marcos participou do primeiro internacional com a seleção brasileira sendo o goleiro titular, a Copa América de 2001: o Brasil caiu no Grupo B do torneio, com México, Paraguai e Peru. O Brasil perdeu na estreia para os mexicanos por 1×0, venceu por 2×0 o Peru e por 3×1 o Paraguai, se classificando em primeiro lugar no grupo e se classificara para as quartas-de-final, fase em que o Brasil fora eliminado em uma derrota histórica para Honduras, perdendo por 2×0 (e dá-lhe zoação vinda por parte dos hermanos argentinos. A Argentina nem participou da Copa América deste ano, alegando falta de segurança no país-sede, Colômbia, que estava enfrentando uma guerra civil, e a Argentina foi substituída pela própria Honduras que eliminou o Brasil. Honduras terminara na terceira colocação na Copa América 2001, a Colômbia foi a seleção campeã).
Em 2002, dois fatos marcantes na carreira de Marcos: a primeira é que ele disputara a primeira (e única) Copa do Mundo da carreira com a seleção brasileira, seria o titular na seleção comandada por Felipão. Com grandes defesas e participação em todos os jogos, o Brasil ganhou todos os sete jogos disputados na Copa do Mundo de 2002 dentro dos 90 minutos, Marcos fora eleito o terceiro melhor goleiro do torneio (perdendo para Kahn, da Alemanha, e Rüştü Reçber, da Turquia), aonde São Marcos sofreu apenas quatro gols (um na estreia contra a Turquia, outros dois contra a Costa Rica e um contra a Inglaterra).
Mesmo com o título mundial, no mesmo ano uma marca negativa na carreira de São Marcos e da história do Palmeiras, afinal, na primeira fase do Campeonato Brasileiro de 2002 (que ainda não era por pontos corridos), o Palmeiras terminou em 24º lugar dentro de 26 times, e ao perder para o Vitória da Bahia fora de casa por 4×3, decretou o rebaixamento à segunda divisão de 2003 depois de uma década multicampeã nos anos 90. Para piorar, na Copa do Brasil de 2003, o Palmeiras seria eliminado nas oitavas-de-final para o mesmo Vitória que o havia rebaixado um ano antes, perdendo a ida em casa por incríveis 7×2, com falhas de Marcos e da equipe inteira.
Neste mesmo ano de 2003, Marcos se tornara mais que um jogador do Palmeiras após recusar uma proposta do Arsenal para jogar a Série B pelo Palmeiras, muitos dizem que ele não passou no teste físico, mas ele passou sim, porém rejeitou a proposta por amor à própria família, ao clube e por observar que não se adaptaria ao frio de Londres. Marcos, se aceitasse a proposta, iria substituir o experiente, questionável e também lendário David Seaman (abordado na quarta edição do quadro). O Palmeiras foi campeão da Série B de 2003, liderando todas as fases e tendo a melhor campanha disparada, vencendo 23 jogos, empatando nove e perdendo apenas três.
Lesões fizeram parte da carreira de Marcos: em 2000 ocorreu rumores de ele se aposentar logo aos 26 anos após ter fraturado o punho esquerdo, mas foi descartada a ideia; porém em 2004, voltou à tona quando Marcos novamente fraturou o punho durante um treino na seleção brasileira, passando por cirurgia e ficando sete meses parado. Marcos voltou com tudo e seria reserva de Dida na seleção durante a Copa das Confederações de 2005, em que Marcos ainda chegou a jogar um jogo no torneio, válido pela fase de grupos contra o Japão e que terminou em 2×2. O Brasil seria campeão do torneio após se classificar em segundo no grupo com México (também classificado), Japão e Grécia; iria passar pela Alemanha nas semifinais e ganhar dos nossos hermanos por 4×1 na final do torneio. Entretanto, em virtude de lesões, Marcos não fora convocado para a Copa do Mundo de 2006, mesmo ainda estando em um bom momento.
Em 2007, Marcos sofreu com lesões e quase não jogou, ficou onze meses parado e só voltara no ano seguinte às metas do Palmeiras em partida válida pela sétima rodada do Campeonato Paulista, contra o Guaratinguetá e derrota por 3×0; o Palmeiras seria campeão paulista de 2008 depois de doze anos, este que fora o último título da carreira de São Marcos. Ainda em 2008, o Palmeiras chegou a brigar pelo título, mas terminou em quarto lugar o Brasileirão; mesmo assim se classificou para a Libertadores do ano seguinte, enfrentando o Real Potosí na fase prévia, vencendo a ida por 5×1 e a volta por 2×0, se classificando para a fase de grupos no Grupo 01, que continha o Sport (campeão da Copa do Brasil 2008), LDU Quito e Colo-Colo. O Palmeiras se classificara em segundo lugar após três vitórias, um empate e duas derrotas. Nas oitavas-de-final, iria enfrentar o mesmo Sport da fase de grupos: após vencer a ida em casa por 1×0 e perder a volta pelo mesmo placar, a disputa foi para os pênaltis e mais uma vez, o herói seria Marcos! O Palmeiras venceu por 3×1 a disputa e Marcos defendeu “somente” três cobranças. Na fase seguinte, o Palmeiras fora eliminado após empatar em casa por 1×1 e em 0x0 fora de casa com o Nacional do Uruguai, caindo na regra dos gols fora.
Depois disto, o Palmeiras começou a entrar em declínio no desempenho, e o próprio Marcos passou a sentir cada vez mais dores no corpo todo a medida que continuava a jogar; em 2011 isto foi bastante visível, quando Marcos atuou em apenas 27 das 69 partidas disputadas pelo Palmeiras durante aquele ano inteiro. Antes do começo da temporada de 2012, Marcos anunciara a aposentadoria dos gramados: foi organizado um grande evento para uma despedida memorável para o santo goleiro palmeirense, que fora um amistoso entre a equipe do Palmeiras de 1999 contra o Brasil de 2002, jogo que terminou 2×2 e Marcos abriu o placar em uma cobrança de pênalti. Este jogo aconteceu no dia 12/12/12, em homenagem a camisa que Marcos tanto usou e o consagrou.
Marcos deixou de ser goleiro, mas continuou trabalhando no Palmeiras como embaixador. Marcos aposentou as luvas com uma carreira imensamente vitoriosa pelo time do Palmeiras em seus 532 jogos disputados, sendo o recordista de atuações com a camisa do Palmeiras em jogos do Campeonato Brasileiro e é o segundo goleiro que mais atuou com a camisa do Palmeiras, perdendo somente para Émerson Leão. O “Dia de São Marcos” é hoje aqui no Goleiro de Aluguel, mas tem tantos dias que poderiam levar este nome, homenageando os milagres que ele fez!
E esta foi a décima-segunda edição do Muralhas Lendárias, pessoal! Espero que vocês tenham gostado da abordagem da carreira de São Marcos, um santo goleiro para os palmeirenses devido aos milagres que ele operava debaixo das traves. Não esqueçam de acompanhar o blog, o quadro e o projeto, qualquer dúvidas, sugestões e críticas nos comentários. Até semana que vem!
PALMEIRAS 4×0 BOTAFOGO-SP – ESTREIA DE MARCOS COMO TITULAR EM 1996:
PALMEIRAS 2×1 DEPORTIVO CALI – FINAL DA LIBERTADORES DE 1999 (JOGO COMPLETO):
PALMEIRAS 3(5)x(4)2 CORINTHIANS – PÊNALTIS: SEMIFINAL DA LIBERTADORES DE 2000:
SPORT 1(1)x(3)0 PALMEIRAS – OITAVAS-DE-FINAL DA LIBERTADORES DE 2009:
MELHORES DEFESAS DE SÃO MARCOS:
1 Comment
Muito bom!