Muralhas Lendárias #28: Fábio Costa – Sem Deixar a Bola Passar… Nem as Canelas dos Adversários
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Chances existem para serem aproveitadas, não dá para deixar para amanhã o que se pode concretizar hoje, muito menos quando o assunto é futebol. Cevallos teve uma carreira de sucesso no Equador, mas nunca nem mesmo o país equatoriano havia conquistado uma glória internacional, como a conquista de uma Copa Libertadores da América, por exemplo, mas Cevallos iria fazer história ao ser o principal responsável para o Equador sentir este gostinho de ser campeão da América do Sul, e ele teve de tentar mais de uma vez (e não foi fácil!). Entretanto, vamos abordar isto mais para frente, ou melhor, bem mais para frente, afinal Cevallos apenas o conseguiu ao final da carreira.
José Francisco Cevallos Villavicencio, ou simplesmente Cevallos, nasceu em 17 de abril de 1971, na cidade equatoriana de Ancón, localizada na Província de Santa Elena. Cevallos começou a carreira no Molinera com catorze anos (1985) e por lá seguiu até 1989, quando em 1990 se transferiu para a tradicional equipe equatoriana do Barcelona de Guayaquil, no mesmo ano em que viria a se profissionalizar na “profissão goleiro”, com 19 anos incompletos. Apesar disto, Cevallos começou na reserva de Carlos Morales até 1993, no máximo fez uns jogos quando que ele não poderia atuar; um destes jogos memoráveis de Cevallos foi nas quartas-de-final da Libertadores de 1992, quando após dois empates contra o Cerro Porteño em um gol, o Barcelona se classificou nos pênaltis vencendo a equipe paraguaia por 4×3, com Cevallos defendendo três das seis cobranças. Ainda que jovem, Cevallos já mostrava uma das grandes marcas suas, as defesas de pênalti. O Barcelona seria eliminado nas semifinais da competição para o São Paulo de Zetti.
Em 1994, Carlos Morales saiu do Barcelona e, contra os rumores e evidências, Cevallos continuou na reserva do Barcelona de Guayaquil, agora na reserva de Mendonza, mesmo que tudo indicasse que ele assumiria a titularidade do time, afinal Cevallos era o reserva imediato de Carlos Morales e fora inscrito no time do Barcelona como o camisa 1 para a Libertadores de 1994, mas Mendonza, o camisa 12, foi o titular, não só na Libertadores, como naquele ano inteiro.
Em 1995, na primeira temporada como titular absoluto do Barcelona de Guayaquil, Cevallos viria a disputar com o clube a Copa Conmebol (aonde seriam eliminados logo na primeira fase ao perder as duas partidas para o América de Cali) e o Campeonato Equatoriano, competição aonde o Barcelona viria a se tornar o campeão nacional após passar pelo Torneo Apertura, pelos hexagonais e chaves e pelo Torneo Finalización com a melhor campanha, ganhando uma das vagas a final contra o Estoril e se sagrou campeão após vencer os dois jogos da final (o primeiro em casa por 2×0 e o segundo fora de casa por 1×0).
O destaque deste ano de 1995 do Barcelona foi para o goleirão Cevallos que, mesmo o Barcelona tendo jogado cinquenta partidas neste Campeonato Equatoriano, teve a defesa menos vazada, sofrendo apenas 32 gols em todos estes jogos. As boas atuações de Cevallos o fizeram ser convocado para a seleção equatoriana, inclusive para a Copa América de 1995, entretanto, mesmo tendo sido inscrito com a camisa 1 do Equador, ficou, mais uma vez, na reserva do camisa 12, Carlos Morales, o mesmo de quem era reserva no Barcelona anos antes, mas agora na seleção equatoriana, pois Carlos Morales estava no Independiente de Avellaneda.
Mesmo com as boas atuações, em 1996, Cevallos voltaria para o banco, pois o ídolo Carlos Morales voltaria ao Barcelona para deixar Cevallos mais uma vez como reserva dele. Em 1997, Cevallos retomaria a titularidade, afinal Carlos Morales iria para o Emelec, time equatoriano também de Guayaquil e principal rival do Barcelona. Convenhamos que, tendo quinze anos de carreira no Barcelona e, após isto tudo, tendo rumado ao Emelec, não deve ter sido uma atitude que a torcida do Barcelona tenha aprovado vindo de um ídolo do clube.
A campanha do Barcelona de Guayaquil em 1996 foi uma bo**** e no ano seguinte só viria a disputar o Campeonato Equatoriano e tentaria recuperar as glórias que o clube sempre teve, afinal é um dos maiores, senão o maior, clube do Equador. Neste ano, o Barcelona destruiu, afinal foi campeão do Torneo Apertura e do Torneo Finalización, se classificou para a Liguilla do título e, mais uma vez, terminaram em primeiro lugar, se sagrando campeões.
Naquele ano teve Copa América sediada na Bolívia e Cevallos, mais uma vez, fora convocado como o camisa 1, entretanto, ele fora titular apenas nos dois primeiros jogos do Equador da fase de grupos (na estreia com um empate sem gols contra a Argentina e depois em uma vitória por 2×0 contra os paraguaios), no último jogo do grupo e nas quartas-de-final (fase em que os equatorianos foram eliminados nos pênaltis para o México), o titular em ambas as ocasiões foi o goleiro Oswaldo Ibarra.
Em 1998, o Barcelona iria se classificar para Libertadores graças ao título de um ano antes e iria cair no Grupo 01 com os conterrâneos do Deportivo Quito e os colombianos do América de Cali e o Atlético Bucaramanga e iriam passar de fase após terminar em segundo lugar no grupo, vencendo duas partidas, empatando três e perdendo uma. Nas oitavas-de-final, o Barcelona venceu o Colo-Colo por 2×1 em casa e um empate em dois gols na volta garantiu eles na próxima fase; nas quartas-de-final, contra o Bolívar, um empate fora de casa em um gol e uma vitória na volta em Guayaquil por 4×0 garantiu o Barcelona nas semifinais daquela Libertadores contra o Cerro Porteño. O Barcelona venceu pelo placar mínimo a ida em casa em Guayaquil, mas perdeu por 2×1 no Paraguai, a vaga para a finalíssima daquela Libertadores seria decidida nos pênaltis e Cevallos brilhou, o Barcelona venceu por 4×3, com Cevallos defendendo três das seis cobranças do Cerro (extremamente semelhante ao acontecido em 1992, quando ainda estava na sombra de Carlos Morales), garantindo o Barcelona na segunda final de Libertadores da história do clube… Não só do clube, como do Equador, era a segunda vez que um time equatoriano chegava a final da Libertadores, a primeira vez tinha sido com o mesmo Barcelona em 1990, quando perderam a final para o Olimpia do Paraguai. Nesta edição, o Barcelona de Cevallos iria perder mais uma vez, para o Vasco da Gama, após perder a ida em São Januário por 2×0 e perder em casa também por 2×1.
Pelo Barcelona de Guayaquil, Cevallos continuou até 2004 e mesmo o Barcelona sendo uma das maiores equipes do Equador, eles viveram um jejum enorme de títulos e Cevallos esteve presente por lá durante grande parte deste período. Ainda que fossem os maiores campeões do Campeonato Equatoriano, o Barcelona só viria a conquistar novamente um título nacional em 2012, com Cevallos já aposentado.
Neste período pelo Barcelona, Cevallos disputou duas Copa América (1999 e 2001) e uma Copa do Mundo, em 2002, sendo titular em todas as ocasiões. Entretanto, nestes três torneios, o Equador não passou da primeira fase em nenhum deles. Após a Copa do Mundo da Coréia do Sul e Japão, Cevallos, que já estava com 32 anos, não chegou mais a ser convocado para a seleção principal equatoriana, que trocaria radicalmente de goleiros até a outra Copa do Mundo, com Christian Mora e Edwin Villafuerte tomando conta das metas equatorianas.
Em 2005, Cevallos se transferiu por empréstimo ao Once Caldas da Colômbia, mas por lá, pouco atuou. Na metade daquele ano, voltou ao Barcelona aonde seguiria até o final de 2006. Então se transferiria para o Deportivo Azogues em 2007, até chegar em 2008 na Liga Deportiva Universitaria de Quito, a LDU, que buscou um goleiro experiente para a disputa da Copa Libertadores de 2008.
A LDU caiu no Grupo 08 junto com o Fluminense, Arsenal de Sarandí e Libertad e iriam passar de fase após vencer três partidas, empatar uma e perder duas, somando dez pontos, um a mais que o Arsenal de Sarandí, terceiro colocado. A LDU terminou com a terceira melhor pontuação dentre os segundos colocados. Nas oitavas-de-final contra o Estudiantes de la Plata, a LDU venceu a ida no Equador por 2×0 e mesmo tendo perdido por 2×1 a volta na Argentina, se classificaram para as quartas contra outros argentinos, o San Lorenzo. Após dois empates em um gol, a LDU iria ganhar nos pênaltis por 5×3, com Cevallos defendendo uma cobrança que basicamente deu a vaga ao time equatoriano. Nas semifinais, após empatar fora de casa em um gol contra o América do México e empatar sem gols em casa, a LDU se classificou a finalíssima graças a ridícula regra dos gols fora de casa e a final seria contra o Fluminense, time que enfrentaram na fase de grupos e não haviam ganho.
Na primeira partida da final, uma vitória do time equatoriano por 4×2. Na volta, a LDU saiu ganhando e parecia ter deixado as coisas bem encaminhadas, mas Thiago Neves surgiu, desencantou e fez três gols, se tornando o primeiro jogador a marcar um hat-trick em final de Libertadores e parecia que iria desequilibrar a favor do Fluminense. A partida terminou 3×1 e na somatória dos resultados, a decisão iria para os pênaltis (na final, a regra do gol fora de casa não vale) e foi aí que Cevallos roubou a cena, pois foi fundamental no título para a LDU, defendendo três penalidades na vitória por 3×1, inclusive defendendo a cobrança de Thiago Neves (daquela superstição, o craque da partida quase sempre erra o pênalti na disputa por penalidades máximas. Inclusive, neste caso, vale aquela superstição infundada de que o canhoto erra o pênalti).
Apesar de tudo, foi uma final controversa, muitos reclamam de pênalti sobre o Washington na prorrogação e que Cevallos provocou e catimbou nos pênaltis, inclusive “abandonando” as metas na cobrança do Thiago Neves que o juiz mandou voltar (ele já tinha cartão amarelo e, para muitos, deveria ter sido expulso neste momento). Apesar dos apesares, Cevallos vai estar marcado para sempre na história da Libertadores por ter defendido estes três pênaltis em 2008, que deu não só a Liga de Quito como também ao Equador o primeiro título de Libertadores ao país.
Naquele ano, a LDU seria vice-campeã mundial ao passar pelo Pachuca nas semifinais (vencendo os mexicanos por 2×0) e perder a final contra o Manchester United por 1×0. A partir de 2009, Cevallos continuou na LDU, mas agora como reserva do ainda promissor Domínguez, de 20 anos. Cevallos ainda se sagraria campeão de duas Recopas Sulamericanas (2009 e 2010), uma Copa Sulamericana (2009, por sinal, a LDU ganhou a final sobre o Fluminense, como em 2008) e voltaria a se sagrar campeão de um Campeonato Equatoriano (2010), mas agora, mais assistindo no banco do que debaixo das traves. Cevallos ficou até 2011 na LDU, quando decidiu aposentar-se aos 40 anos.
Sem dúvida, Cevallos é o goleiro mais importante da história do Equador, falando tanto pelos clubes quanto pela seleção, afinal ele é o goleiro que mais vestiu a camisa da seleção equatoriana e foi o titular do Equador na Copa do Mundo de 2002, a primeira participação do Equador em Copas. Também foi o principal responsável por trazer a primeira (e até agora única) Libertadores ao Equador, sendo que ele foi eleito o melhor goleiro da América do Sul em 2008, já com 37 anos.
APÓS O FUTEBOL:
Cevallos é dono de uma fundação que ajuda crianças carentes, sobretudo com o futebol, como aqui no Goleiro de Aluguel, aonde ajudamos crianças carentes no Brasil e em Mali, na África, com parte do dinheiro que arrecadamos. Em maio de 2011, o presidente do Equador, Rafael Correa, concedeu a Cevallos o cargo de Ministro do Esporte, função em que ele exerceu até 2015. Depois disto, Cevallos virou presidente do Barcelona de Guayaquil.
Cevallos não foi o único da família que seguiu na carreira do futebol, os irmãos mais velhos dele, Alex e Alejandro Cevallos, também foram goleiros profissionais, mas que não chegaram nem perto da notoriedade que teve o caçula; por sinal, enquanto Cevallos fez quase a carreira inteira no Barcelona de Guayaquil, os irmãos dele atuaram por vários clubes equatorianos e o de maior destaque de ambos foi o Emelec, maior rival do Barcelona.
E esta foi a vigésima-nona edição do “Muralhas Lendárias” aqui no blog do Goleiro de Aluguel! Espero que vocês tenham gostado da abordagem da carreira de Cevallos, o maior goleiro da história do futebol equatoriano que conseguiu as maiores glórias da carreira quando estava prestes a se aposentar (parecido com o que aconteceu com o Clemer), inclusive chegou a afirmar que a Libertadores de 2008 era a última chance dele conseguir o tão almejado título. Semana que vem o quadro volta abordando a carreira de mais um lendário goleiro. Até lá!
SEMIFINAIS DA LIBERTADORES DE 1998: CERRO PORTEÑO 2 (3) x (4) 1 BARCELONA SPORTING CLUB:
FINAL DA LIBERTADORES DE 2008: FLUMINENSE 3 (1) x (3) 1 LIGA DE QUITO – APENAS A DISPUTA DE PÊNALTIS:
GRANDES DEFESAS DE CEVALLOS: