Na Baliza #17 – Leandro Santos
01/03/2017Na Baliza #18 – Victor Souza
08/03/2017O Último Campeão do Bloco Socialista
Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo viveu a chamada “Guerra Fria” aonde tudo foi, basicamente, dividido em dois grandes blocos: o Bloco do Ocidente (que tinha os Estados Unidos como principal potência e seguiam princípios liberais) e o Bloco do Leste (que tinha como principal potência a União Soviética e seguiam princípios socialistas), muitos países se formaram e se dissolveram com guerras e vários acontecimentos históricos durante este período. Ao final da “Guerra Fria”, os países do bloco socialista foram derrotados e a grande maioria deles vivem em regimes liberais hoje, exemplos principais são todos os países do antigo leste europeu, que eram parte da extinta União Soviética, se tornaram vários países independentes e passaram a viver no capitalismo.
A UEFA Champions League surgiu em 1955, dez anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, e sempre teve como campeões equipes pertencentes ao bloco ocidental e capitalista até 1986, quando a equipe romena do Steaua de Bucareste do goleirão Helmuth Duckadam venceu o Barcelona na final, após empatarem no tempo normal e na prorrogação sem gols e vencerem por 2×0 nas penalidades máximas (com Duckadam heroico defendendo todos os quatro pênaltis!). Até então, era a primeira vez que um país do bloco socialista chegava a uma final de Champions League e a primeira vez que vencia o torneio. O mesmo Steaua chegaria em uma final de Champions em 1989, mas perderiam por 4×0 para o Milan na finalíssima. Em 1991, ano em que a União Soviética foi dissolvida, pela última vez na história do maior torneio de clubes europeus, uma equipe do Bloco do Leste chegaria na final, e seria a grande campeã! Quem era o goleiro deste time? É o que você confere no “Muralhas Lendárias” de hoje, que completa amanhã um ano de existência!
Stevan Stojanović nasceu em 29 de outubro de 1964 na cidade de Mitrovica, da antiga Iugoslávia (atualmente, a cidade está localizada no Kosovo). Stojanović veio das bases do Estrela Vermelha, time de Belgrado, a capital da Iugoslávia e da atual Sérvia, chegou na base do Estrela Vermelha em 1979 e em 1982 viria a se profissionalizar no futebol, com apenas dezoito anos de idade. Por lá, Stojanović permaneceu na reserva durante um bom tempo e atuou vagarosamente até 1986. Stojanović permaneceu na reserva de goleiros da seleção iugoslava, como Tomislav Ivković e Živan Ljukovčan. Na reserva, ele se sagrou campeão do Campeonato Iugoslavo de 1983/1984 e de uma Copa da Iugoslávia em 1985.
Na primeira temporada como titular do Estrela Vermelha, Stojanović ajudou o time a ter a segunda melhor defesa do Campeonato Iugoslavo, o que não foi suficiente para o título. O Estrela Vermelha iria terminar em terceiro lugar na liga nacional, os campeões seriam os grandes rivais do Estrela Vermelha, o Partizan. Com esta colocação, na temporada seguinte (1987/1988), o Estrela Vermelha se classificou para a UEFA Cup (atual UEFA Europa League). Ainda nesta primeira temporada como titular, Stojanović participou da primeira UEFA Champions League da carreira dele como titular, aonde o Estrela Vermelha fez uma bela campanha, mas fora eliminado pelo Real Madri nas quartas-de-final, após vencer por 4×2 em casa e perder no Santiago Bernabéu por 2×0, caindo na ridícula regra do gol qualificado.
Na temporada 1987/1988, Stojanović conquistaria o primeiro título com a equipe do Estrela Vermelha sendo o goleiro titular do time: na UEFA Cup a equipe não foi longe, sendo eliminada logo nas prévias, na Copa da Iugoslávia o título bateu na trave, com o Estrela Vermelha chegando na final, mas perdendo a finalíssima para o Borac Banja Luka por 1×0, no Campeonato Iugoslavo que as glórias estavam reservadas ao Estrela Vermelha, após 34 jogos (dezessete vitórias, onze empate e seis derrotas) o Estrela Vermelha conquistava o campeonato nacional, um ponto a frente dos rivais do Partizan.
Ainda em 1988, Stojanović seria o goleiro titular da seleção iugoslava nas Olimpíadas de Seul (camisa 12), mas não iria passar da fase de grupos: a Iugoslávia caiu no Grupo D, junto com o Brasil, Austrália e Nigéria e apenas venceram a Nigéria por 3×1, perderam para a Austrália por 1×0 na estreia e para o Brasil por 2×1, sendo eliminados logo na primeira fase. Esta participação nas Olimpíadas de 1988 é a única participação de Stojanović com a seleção iugoslava. Pela seleção principal ele até chegou a ser convocado, mas sempre como reserva e nunca teve a oportunidade de fechar o gol da seleção da Iugoslávia.
Na temporada 1988/1989, Stojanović participaria da segunda Champions League da carreira. O Estrela Vermelha passou pela primeira fase ao vencer o Dundalk, da Irlanda, por 5×0 fora de casa e por 3×0 em casa. Entretanto, caíram logo na segunda rodada para o Milan, ao vencerem a ida em casa por 2×0 (neste jogo de ida, a partida foi interrompida aos 20 minutos do segundo tempo por conta da neblina e baixa visibilidade, a partida estava 1×0 para o Estrela Vermelha. O jogo foi retomado aonde parou no dia seguinte) e perderem pelo mesmo placar no San Siro, caindo ao perder na penalidades máximas por 4×2. Esta temporada não reservou tantos motivos para o Estrela Vermelha comemorar, afinal terminaram em segundo lugar no Campeonato Iugoslavo e não foram longe na Copa.
Na jornada de 1989/1990, o Estrela Vermelha participaria da UEFA Cup e eliminaria na primeira fase o Galatasaray da Turquia e passaram pelo Zalgiris Vilnius, da União Soviética, na segunda fase. Nas oitavas-de-final, após vencerem em casa por 2×0, perderam por 3×0 na Alemanha e seriam eliminados para o Colônia do goleirão Bodo Illgner. Em compensação, os títulos nacionais viriam! Na Copa da Iugoslávia, Stojanović se sagraria campeão com o Estrela Vermelha ao vencer o Hajduk Split na final por 1×0; o Estrela Vermelha, dentre oito partidas na Copa, venceu sete jogos e empatou um, uma campanha brilhante! No Campeonato Iugoslavo, o regulamento mudou: consistia em que as partidas empatadas iriam ser decididas em disputa de pênaltis, aonde o vencedor ganharia o ponto do empate e o perdedor sairia com as mãos abanando. O Estrela Vermelha se sagrou campeão com bastante folga, com 51 pontos contra 40 do Dinamo Zagreb, o segundo colocado, o Estrela Vermelha somou 24 vitórias, cinco empates (sendo que venceram três destas cinco disputas de pênaltis) e cinco derrotas (lembrando que vitória contava dois pontos e não três como é hoje. A vitória só passou a valer três pontos em 1995).
A temporada 1990/1991 seria a última de Stojanović no Estrela Vermelha e a mais marcante também. Na primeira ronda, o Estrela Vermelha eliminou o Grasshopper, da Suíça, ao empatarem fora de casa em um gol e vencer por 4×1 em casa. Nas oitavas-de-final, eliminaram o Rangers, da Escócia, ao vencerem por 3×0 em casa e empatarem em um gol fora de casa. Nas quartas-de-final, o Estrela Vermelha venceu em casa por 3×0 o Dynamo Dresden. No segundo jogo, aos 33 do segundo tempo o Dynamo abandonou a partida (o Estrela Vermelha estava vencendo por 2×1) e com este abandono, o Estrela Vermelha foi declarado vencedor pelo placar de 3×0. Nas semifinais, o Estrela Vermelha eliminou o tradicionalíssimo Bayern de Munique, ao vencer a ida fora de casa por 2×1 e empatar em casa em dois gols. Na final desta edição da UEFA Champions League, o Estrela Vermelha viria a enfrentar o Marseille e se sagrariam os campeões após empatar sem gols no tempo normal e na prorrogação, vencendo nos pênaltis por 5×3: o Marseille errou uma cobrança com Amoros, que foi defendida por Stojanović. O goleiro e capitão do Estrela Vermelha foi extremamente essencial nesta conquista não só do Estrela Vermelha, mas como da Iugoslávia em si.
Nesta mesma temporada, o Estrela Vermelha seria vice campeão da Copa da Iugoslávia e campeão nacional por mais uma vez. Na jornada seguinte, Stojanović se transferiu para o Royal Antwerp da Bélgica.
Pelo Royal Antwerp, Stojanović ficou mais na reserva de outro goleiro sérvio, Ratko Svilar, se sagrou campeão da Copa da Bélgica na primeira temporada pelo Antwerp, ainda que na reserva de Svilar. Na temporada seguinte, Stojanović começou na reserva de Svilar, mas ele se lesionou e Stojanović deu conta do recado o substituindo bem, foi um dos grandes responsáveis pelo Antwerp chegar na final da Cup Winners’ Cup (ele começou a substituir Svilar nas quartas-de-final do torneio), mas o título não veio, pois na finalíssima o Antwerp não foi páreo para o Parma, que levou a taça após vencer por 3×1.
Stojanović sofreu muito com lesões neste período. Ele jogou no Antwerp até 1995, grande parte do tempo na reserva de Svilar, que era ídolo da torcida (Svilar havia começado a jogar no Royal Antwerp em 1980 e só parou em 1996, quando se aposentou aos 36 anos). Depois de 1995, Stojanović só voltou a jogar em 1997 no BV Cloppenburg e.V. Time da Oberliga Nord, uma divisão regionalizada da Alemanha que correspondia ao quarto escalão. Nesta primeira temporada, Stojanović conseguiu acesso para a Regionalliga da temporada seguinte (terceira divisão), aonde permaneceria no meio da tabela. Na temporada 1999/2000, Stojanović se transferiu para o Ethnikos Asteras, time que jogava a primeira divisão grega. Por lá, ele terminou apenas no meio da tabela. Ao fim daquela temporada, Stojanović aposentou-se definitivamente do mundo do futebol.
E esta foi a trigésima-sexta edição do “Muralhas Lendárias” aqui no blog do Goleiro de Aluguel! Espero que vocês tenham gostado da abordagem da carreira de Stojanović, que fez história no Estrela Vermelha, a última “equipe socialista” a vencer uma edição da UEFA Champions League. Antes me despedir, queria agradecer a todos que acompanham o quadro neste passado um ano em que aqui escrevo e dizer que toda semana procuro melhorar os artigos para o pouco que ainda resiste do futebol aqui sobreviva. Semana que vem o quadro volta abordando a carreira de mais uma muralha lendária que já se aposentou. Até semana que vem!
ESTRELA VERMELHA 0 (5) x (3) 0 OLYMPIQUE DE MARSELHA – DISPUTA POR PÊNALTIS: FINAL DA UEFA CHAMPIONS LEAGUE 1991/1992