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01/06/2016Em Nome do Pai, do Filho e da Família Inteira. Amém.
A décima-primeira edição do Muralhas Lendárias traz a carreira de um jogador que chegou a jogar junto com o maior camisa 11 da história, Romário; o quadro hoje traz a carreira de um goleiro que fez história no gigante cruzmaltino, assim como outros fizeram história com a camisa 1 vascaína, tais como Carlos Germano e Mazarópi; o artigo de hoje irá abordar a carreira de Acácio, que jogou por pequenos times cariocas até despontar no Vasco da Gama, chegando a se aventurar em Portugal posteriormente.
Acácio Cordeiro Barreto, ou simplesmente Acácio, nasceu em Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, o próprio Acácio conta que um amigo o viu jogando na várzea e percebeu talento nele para ser goleiro e aos 12 anos de idade, ele tentou entrar na base do Americano, time da cidade de Campos dos Goytacazes. Acácio passou na peneira do Americano e ingressou no time, para muita felicidade da família dele, principalmente do pai, principal motivador de Acácio, caçula de oito irmãos. Acácio fez a carreira jovem no Americano, até rumar ao Rio Branco de Campo e se tornar profissional com apenas 17 anos, chegou até ser emprestado ao time Goytacaz e em 1980 teria uma grande oportunidade da carreira, ao jogar pelo Serrano.
Antes de ir ao Serrano, o pai de Acácio morreu e ele pensou até em desistir da carreira, mas os amigos foram importantes para que ele prosseguisse no futebol. A vontade de desistir do futebol foi tamanha que Acácio prestou naquele ano vestibular para Direito e passou na segunda chamada, quase que a advocacia minou a carreira de um grande goleiro. Se Acácio tivesse seguido a advocacia, com certeza não estaríamos a falar dele hoje, não pelo menos como goleiro, muito menos aqui no quadro.
Logo no primeiro ano pelo Serrano, Acácio disputara o Campeonato Carioca de 1980 pelo time da cidade de Petrópolis e o jogo memorável neste torneio foi contra o Flamengo de Zico, Júnior, Adílio e outros craques, em que o Serrano ganhou por 1×0 e Acácio fechou o gol no jogo. Esta partida iria abrir os olhos do futebol carioca sobre Acácio, que no final do ano seguinte, viria a ser contratado pelo Vasco da Gama, uma satisfação enorme para a família dele, afinal, Acácio veio de família vascaína.
Acácio viria a começar no Vasco em 1982 como reserva do também lendário Mazarópi, mas no mesmo ano já iria virar titular da equipe cruzmaltina. Logo no primeiro ano, Acácio fora campeão carioca em cima do maior rival do Vasco, o Flamengo, com um gol de Marquinho no início do segundo tempo; Acácio viria a defender uma bomba cara-a-cara com Zico no jogo e garantir a vitória por 1×0 do Vasco da Gama. No Campeonato Brasileiro de 1982, o Vasco seria eliminado nas oitavas-de-final para o Grêmio após empatar a ida em 1×1 e perder a volta por 1×0: o tricolor gaúcho viria a ser o vice-campeão daquele Brasileirão, perdendo para o maior rival do Vasco, o Flamengo, em uma final bastante polêmica.
Em 1983, Acácio tornara-se titular indiscutível do Vasco, afinal Mazarópi viria a se transferir e a jogar no Grêmio neste ano, aonde o ídolo vascaíno também se tornara ídolo no tricolor gaúcho, após se tornar campeão da Libertadores e do mundo. Em 1984, o Vasco foi vice-campeão brasileiro, ao chegar na final e sair derrotado para o rival de estado, Fluminense, perdendo a ida por 1×0 e empatando a volta sem gols; no ano seguinte, Acácio jogara a primeira Libertadores da América da carreira, mas o Vasco fora eliminado logo na primeira fase com a pior campanha do grupo 01. Acácio só viria a conquistar títulos novamente em 1987, quando o Vasco mais uma vez viria a ganhar a final do Campeonato Carioca em cima do Flamengo por 1×0.
O Vasco de Acácio seria bicampeão Carioca em 1988 após ganhar mais uma vez do Flamengo a final, a primeira partida fora por 2×1 e a volta em casa por 1×0. Mesmo não saindo campeão brasileiro neste ano, Acácio estabeleceu uma incrível marca na carreira durante o Brasileirão de 1988, quando ele ficou 879 minutos seguidos sem sofrer um gol sequer, entrando para a história do Brasileirão como o quarto goleiro que ficou mais tempo sem tomar um gol. O Vasco fora eliminado nas quartas-de-final daquele Brasileiro, diante do Fluminense.
No ano seguinte viria a maior conquista da carreira de Acácio enquanto goleiro do Vasco da Gama, após a equipe cruzmaltina de Acácio, Bismarck, Mazinho, Bebeto e companhia terem feito excelente campanha na primeira e na segunda fase do torneio, chegariam a final contra o São Paulo: só bastou um jogo, em que o Vasco venceu o São Paulo no Morumbi por 1×0, partida esta que foi marcada como uma das melhores atuações da carreira de Acácio (pelo regulamento, não foi necessário segundo jogo, afinal o Vasco teve melhor campanha durante o decorrer do campeonato).
Neste mesmo ano, Acácio teria chances na seleção brasileira, chegando a disputar sete partidas oficiais pela nossa seleção. Entretanto, ficou na titularidade apenas naquele ano, perdera o posto de titular após o Brasil perder por incríveis 4×0 um amistoso contra a Dinamarca: era a despedida de Morten Olsen, que fez um gol de penalidade máxima no primeiro tempo, pênalti este cometido por Acácio. O irmão de Morten, Lars Olsen, fez o quarto gol do jogo e os outros dois irmãos Brian e Michael Laudrup só faltaram fazer chover neste jogo, aonde Michael fez o segundo e o terceiro gol da Dinamarca. Depois desta goleada, Acácio ficara na reserva do lendário Taffarel, que passaria a ter as titularidades da seleção brasileira.
Ainda em 1989, Acácio faria parte da seleção campeã da Copa América daquele ano, mas, como já dito, na reserva de Cláudio Taffarel; o Brasil retornara a ganhar uma Copa América 40 anos depois e jogando em casa. O Brasil, que se classificara para a Copa do Mundo de 1990 após o Caso Rojas*, teve mais uma vez Acácio como o reserva imediato de Taffarel: o Brasil caiu no Grupo C da Copa do Mundo e ganhou todos os jogos, ganhando da Suécia por 2×1, da Costa Rica e da Escócia por 1×0. Nas oitavas-de-final, o Brasil seria eliminado pelos hermanos argentinos, após perder de 1×0 com um gol de Caniggia aos 35 do segundo tempo, os Hermanos seriam vice-campeões daquela Copa, perdendo por 1×0 a final para a Alemanha. Esta seleção de 1990, comandada por Sebastião Lazaroni, é muito pouco falada, talvez porque seja considerada, em níveis técnicos, a pior seleção brasileira da história depois da “geração 7×1”.
*Caso Rojas: Rojas era um goleiro chileno que, em um jogo contra o Brasil, estava temendo que o Chile não se classificasse à Copa na partida contra a seleção brasileira, neste caso ele tentou adiar a partida alegando falta de segurança, tentando simular uma lesão com um sinalizador arremessado no campo. Com a farsa descoberta, o Chile foi excluído das eliminatórias da Copa do Mundo de 1994 e Rojas foi banido do futebol. O Brasil, que vencia por 1×0 antes da paralisação daquele jogo, foi declarado o vencedor por 2×0.
Após ter sido campeão brasileiro em 1989, o Vasco de Acácio jogou a Libertadores da América de 1990, em que o Vasco caiu no grupo 05, mesmo grupo do Grêmio e dos paraguaios do Cerro Porteño e Olimpia. O Vasco se classificou às oitavas-de-final em terceiro no grupo, após duas vitórias, dois empates e duas derrotas, nas oitavas-de-final o duelo seria contra o chileno Colo-Colo e a classificação às oitavas-de-final viria após empate na ida em casa por 0x0, na volta, outro empate por 3×3 e vitória nos pênaltis por 5×4, com Acácio defendendo a última cobrança de Espinosa (não existia a regra ridícula dos gols fora). O Vasco fora eliminado na fase seguinte para o Atlético Nacional, após empatar a ida sem gols e perder a volta pelo placar mínimo.
Acácio permanecera no Vasco da Gama até o ano seguinte, em 1991. Depois do título de campeão brasileiro em 1989, Acácio não conseguiu conquistar mais títulos com a equipe cruzmaltina, chegou até a ser vice do campeonato carioca, mas títulos mesmo não viria mais a comemorar no Vasco da Gama. Depois de quase dez anos no Vasco, ele teria uma aventura na terra dos nossos amigos portugueses, se transferindo ao Tirsense, time da segunda divisão portuguesa.
Acácio jogara apenas uma temporada pelo Tirsense, suficiente para fazer uma bela história, afinal o Tirsense iria subir à elite portuguesa, terminando em terceiro lugar e com Acácio sendo determinante na conquista do acesso, afinal foram 34 jogos e apenas 14 gols sofridos durante todo o campeonato, sendo a defesa menos vazada da Liga de Honra. Na temporada seguinte, Acácio iria seguir em Portugal, jogando agora pelo SC Beira Mar: por lá, chegou a atuar por três temporadas, sem muito destaque e nenhum título, sendo que na última temporada pelo Beira Mar, o time de Acácio seria rebaixado. Depois de quatro anos em Portugal, ele voltara em 1995 para o Brasil para jogar no Madureira, aonde naquele mesmo ano encerrara a carreira.
Apesar de se aposentar debaixo das traves, Acácio continuou a trabalhar no meio do futebol após pendurar as luvas, trabalhando como preparador de goleiros, auxiliar técnico e técnico: chegou a trabalhar como preparador de goleiros no Botafogo em 2007, mas foi demitido após alegação que o goleiro Júlio César estava a ser mal treinado, foi auxiliar técnico de PC Gusmão no Juventude, no Atlético-GO e no Figueirense, chegou até a ser auxiliar no Vasco da Gama em 2010, no clube que o consagrou, e até como técnico pelo Olaria e pelo Americano, clube que o revelou, treinando o primeiro clube da carreira por duas passagens.
E este foi a décima-primeira edição do Muralhas Lendárias aqui no blog do site oficial do Goleiro de Aluguel! Espero que vocês tenham gostado da abordagem da carreira de um ídolo vascaíno, um monstro um pouco desconhecido na história do futebol brasileiro e semana que vem, o quadro volta abordando a carreira de mais um goleiro. Não se esqueçam de acompanhar o quadro, o blog e o projeto. Abraços!
VASCO DA GAMA 1×0 FLAMENGO – FINAL DO CAMPEONATO CARIOCA DE 1982:
SÃO PAULO 0x1 VASCO DA GAMA – CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1989 (VASCO DA GAMA CAMPEÃO):