Somos goleiros, somos humanos, estamos sempre sujeito a falhas, sejam as maiores falhas ou as mais simplórias, sejam em momentos inúteis ou em momentos importantíssimos. Todo goleiro está sujeito a falhas, pois assumimos este risco que é jogar debaixo das traves, desde eu, por exemplo, como um amador, até aquele que já foi o melhor goleiro do mundo, como Walter Zenga. O quadro hoje aborda a carreira de um dos maiores goleiros da história italiana, mas que é bem lembrado por uma falha cometida na Copa do Mundo de 1990.
Walter Zenga nasceu na capital italiana, Milão, em 28 de Abril de 1960. O pai de Walter, Alfonso, também havia sido goleiro profissional nos anos 40 e 50, com isto, o pai de Walter fez com que ele começasse a jogar futebol ainda bastante jovem, com apenas nove anos, ingressando na base do AC Macallesi 1927, tão jovem que, no começo, o time do Macallesi chegou a falsificar a data de nascimento dele, alterando para o ano de 1959, pra Walter poder disputar os campeonatos juvenis. Em 1971, aos onze anos de idade, ele foi introduzido ao time juvenil da Internazionale.
Zenga se profissionalizou com 18 anos de idade e, apesar de ainda ser goleiro da Internazionale, o primeiro clube profissional dele foi o Salernitana, clube da Serie C1 italiana, aonde jogou a temporada 1978/1979. Pelo Salernitana, Zenga não teve boas memórias, primeiro pelo time não ir bem na temporada, segundo por falhas: a primeira foi em uma partida contra o Campobasso e outra em uma saída de gol discutível, que, apesar da torcida o querer na equipe, Zenga abandonara o campo em lágrimas e decidira deixar o clube.
Passada esta temporada, ele rumou ao Savona, time da Serie C2 italiana, após uma jornada mediana junto com o time, na temporada 1980/1981, Zenga voltou para a Serie C1, para jogar no SSD Sambenedettese e lá começara a decolar na carreira, pois o Sambenedettese foi campeão da Serie C1 daquela temporada (primeiro título profissional da carreira de Walter Zenga) e conseguiu o acesso para a segunda divisão italiana na temporada 1981/1982. Na temporada seguinte, Zenga permanece no Sambenedettese, mas o time terminara apenas na oitava colocação, nem subindo, nem descendo, na chamada “zona do agrião”.
Na temporada 1982/1983, Walter Zenga voltara para a Internazionale, tendo apenas 22 anos. Nesta temporada, ele não atuou muito, jogando apenas cinco partidas válidas pela Coppa Italia, pois era reserva de Ivano Bordon, goleiro italiano reserva do também lendário Dino Zoff nas Copas do Mundo de 1978 e 1982. Entretanto, o bom rendimento nos treinamentos e nas cinco partidas disputadas impressionaram a comissão técnica da Inter e após a transferência de Bordon para o Sampdoria na temporada seguinte, os dirigentes decidiram não correr atrás de nenhum goleiro e dar a titularidade para Zenga.
A primeira temporada passou em branco com Zenga na Internazionale, sendo eliminado nas oitavas-de-final da UEFA Cup (atual Europa League) e na primeira fase da Coppa Italia. Entretanto, a Internazionale terminou em quarto lugar no campeonato italiano, sendo que Zenga foi a principal peça para o clube ter a defesa menos vazada da Serie A, sofrendo 23 gols nos trinta jogos disputados. Com isto, a Internazionale, mais uma vez, iria disputar a UEFA Cup na temporada seguinte.
Na primeira fase da UEFA Cup 1984/1985, a Internazionale passou pela primeira fase sobre o time romeno do Sportul Studentesc, após perder por 1×0 a ida na Romênia e vencer por 2×0 em casa. Na segunda fase, eliminaram os escoceses do Rangers, após vencerem por 3×0 a ida e passar no sufoco na volta após perderem por 3×1 na Escócia. Começava as fases mais decisivas, aonde nas oitavas-de-final, a Internazionale passou após perder na Alemanha para o Hamburg SV por 2×1 e vencer em casa por 1×0, passando graças a regra dos gols fora de casa. As quartas-de-final foram uma parte “fácil” sobre Colônia, da Alemanha, vencendo a ida em casa por 1×0 e a volta fora de casa por 3×1. Mas tudo iria terminar no “quase”, pois nas semifinais, a Internazionale enfrentara o Real Madri e fora eliminada após uma grande virada, pois venceram a ida na Itália por 2×0 e perderam por 3×0 na volta.
Na mesma temporada, outra eliminação nas semifinais, desta vez na Coppa Italia, em que, após passarem da fase de grupos, a Inter eliminou o Empoli nas oitavas-de-final após vencer a ida e a volta por 1×0, eliminaram o Hellas Verona nas quartas-de-final após perderam a ida por 3×0 e virar o jogo incrivelmente na volta, vencendo por 5×1 (sendo que o quinto gol só saiu na prorrogação), mas nas semifinais, foram eliminados pelo arquirrival Milan, após perderem a ida em casa por 2×1 e empatarem em 1×1 a volta fora (nem sei por quê utilizei os termos “casa” e “fora” para um duelo entre Milan e Internazionale sendo que o estádio dos dois clubes é o mesmo). Na primeira divisão, a Internazionale terminou com o terceiro lugar, se classificando, mais uma vez, para a UEFA Cup do ano seguinte.
A temporada 1985/1986 foi marcada por outro “quase”, após campanhas medianas na Serie A e na Coppa Italia, a Internazionale de Zenga, mais uma vez fora eliminada nas semifinais da UEFA Cup frente ao Real Madri: venceram a ida por 3×1 e perderam a volta por 5×1, sendo que o quarto e o quinto gol saíram na prorrogação. Terminada esta temporada, Walter Zenga fora convocado para a Copa do Mundo de 1986, sediada no México, porém ele era a terceira opção e não jogou nenhum jogo (a Itália, depois de passar em segundo lugar no Grupo A, caiu para a França nas oitavas-de-final após perder por 2×0).
Apesar da temporada 1986/1987 não trazer a Zenga títulos com a Internazionale, ele teve grande destaque individual, afinal, mais uma vez, a Internazionale teve a defesa menos vazada da Serie A, sofrendo apenas 17 gols nos trinta jogos disputados. Com isto e muito mais, Zenga foi eleito o melhor jogador do campeonato italiano, ganhando o Guerin Sportivo daquele ano, o primeiro da história da Internazionale. No ano de 1986 ainda, mais precisamente em 08 de outubro, Zenga ganhou a primeira chance de ser titular da seleção principal italiana, em um amistoso contra a Grécia, realizado em Bolonha, em que os italianos venceram por 2×0.
Como goleiro titular, o primeiro torneio internacional com a seleção italiana que Zenga iria disputar seria a Eurocopa de 1988, sediada na Alemanha Ocidental. Eram apenas oito países que se classificavam ao torneio, sendo que a Itália estava entre eles e caíram no Grupo 01 junto com a Alemanha Ocidental, Espanha e Dinamarca: após empatar com os anfitriões na estreia por 1×1, vencer a Espanha pelo placar mínimo e a Dinamarca por 2×0, a Itália terminara em segundo no grupo e iria para a semifinal contra a União Soviética, fase em que fora eliminada após perderem por 2×0.
A temporada 1988/1989 seria cheia de glórias para Walter Zenga, que finalmente conquistara um título com o elenco da Internazionale, e com bastante folga, afinal, após os 34 jogos da Serie A, a Inter terminara em primeiro lugar com 58 pontos, enquanto o Napoli, o segundo colocado, terminou com 47 pontos. Zenga contribuiu para que, mais uma vez, a Internazionale tivesse a defesa menos vencida do campeonato, sofrendo 19 gols nos 34 jogos disputados e Zenga, ao final do ano de 1989, seria eleito o melhor goleiro do mundo pela IFFHS. No final da temporada, a Internazionale também se sagrou campeã da Supercoppa Italiana (torneio disputado em jogo único entre os campeões da Serie A e da Coppa Italia) após vencerem a Sampdoria por 2×0.
No ano seguinte, mais uma Copa do Mundo na carreira de Walter Zenga, desta vez ele seria o titular da azurra, que sediara a Copa do Mundo de 1990. A Itália caiu no Grupo A e passou em primeiro lugar após vencer todas as partidas, a primeira por 1×0 sobre a Áustria, no segundo jogo, outra vitória por 1×0, agora sobre os Estados Unidos e na última partida da chave, a Itália, já classificada, vencera por 2×0 a Tchecoslováquia. Com estes resultados, a Itália se classificou para a fase de mata-mata, aonde a primeira partida seria contra o Uruguai nas oitavas-de-final e a Itália venceu por 2×0. Nas quartas-de-final, a vítima dos italianos foi a Irlanda, que foram derrotados por 1×0, com grande atuação de Walter Zenga.
As semifinais foram contra a Argentina e Zenga, além de ser o melhor goleiro do mundo na altura, não tinha sofrido um gol sequer na Copa do Mundo, sendo dado como grande favorito a ser o melhor na partida. Entretanto, fora neste duelo contra os argentinos que Zenga finalmente sofrera um gol na Copa do Mundo de 1990, aos 22 do segundo tempo, após cruzamento do Olarticoechea na cabeça de Caniggia, e o pior, Zenga saiu mal do gol e permitiu que a bola entrasse após ficar 517 minutos sem sofrer gols na Copa, um recorde que pendura até hoje na história dos mundiais. A partida terminou em 1×1 (a Itália saiu ganhando e sofreu o empate no gol relatado) e a vaga para a finalíssima fora decidida nas penalidades máximas, e quem brilhou mesmo foi o também lendário Goycochea, goleiro da Argentina, a outra muralha do jogo, após defender as cobranças de Donadoni e Serena, que classificaram a Argentina para a final da Copa. A Itália se contentou com um terceiro lugar, que veio após vitória na decisão pela posição sobre a Inglaterra, uma vitória por 2×1.
Em 1990, Walter Zenga, mais uma vez, seria eleito o melhor goleiro do mundo pela IFFHS, além de ter sido eleito o melhor goleiro da Copa do Mundo de 1990, recebendo, como prêmio, um troféu cheio de pedras preciosas, no valor de 160 milhões de Liras (aproximadamente R$300.000). Posteriormente, Zenga leiloou o troféu que recebeu e doou todo o dinheiro recebido para uma associação de caridade, bela atitude do goleirão! Zenga seguiu na seleção italiana até 1992, quando foi-se decidido que a titularidade seria do promissor e também lendário Gianluca Pagliuca (abordado na segunda edição do quadro). Ao todo, Zenga jogou 58 partidas oficiais pela seleção principal italiana, sendo o terceiro goleiro que mais atuou pela azurra, atrás somente de Dino Zoff e Buffon.
Pós-Copa do Mundo, a temporada 1990/1991 renderia o primeiro título continental a Zenga, o da UEFA Cup, que após terminar por vezes nas semifinais, se sagraram campeão nesta temporada. Na primeira fase, passaram no sufoco pelo Rapid Viena da Áustria, após perderem para os austríacos na ida por 2×1 e buscar em casa o resultado, vencendo por 3×1, com o terceiro gol saindo na prorrogação. Na segunda fase, outro sufoco, agora com o Aston Villa, após perder por 2×0 na Inglaterra, a Inter reverteu o resultado na Itália vencendo por 3×0. A partir de então, as coisas ficaram mais “tranquilas”, após passarem pelo Partizan Belgrado nas oitavas-de-final ao vencer por 3×0 em casa e empatar em 1×1 na volta. Nas quartas-de-final, a vítima foram os conterrâneos do Atalanta, que após empatar a ida sem gols, a Inter venceu por 2×0 a volta em casa para se classificar às semifinais; os resultados se repetiram na semifinal, desta vez sobre o Sporting. A final fora contra os conterrâneos da Roma, que se sagraram campeões após vencer a ida em casa por 2×0; a derrota na volta por 1×0 para a Roma não seria suficiente para tirar o título da Internazionale. Neste ano de 1991, Zenga foi eleito o melhor goleiro do mundo pela IFFHS pela terceira vez seguida.
Depois de duas temporadas apagadas, Zenga venceria a UEFA Cup novamente, na temporada 1993/1994, após passar na primeira fase pelo Rapid Bucarest, ao vencer em casa a ida por 3×1 e fora por 2×0. Na segunda fase, a classificação veio após vencer o Apollon Limassol, do Chipre, após vencer pelo placar mínimo em casa e empatar fora em 3×3. Nas oitavas-de-final, classificação veio fácil em cima do Norwich, da Inglaterra, após a Internazionale vencer a ida e a volta por 1×0. Nas quartas-de-final, eliminaram os alemães do Borussia Dortmund, após vencerem na Alemanha por 3×1 e perder em casa por 2×1, se classificando às semifinais da UEFA Cup 1993/1994, que foram contra os conterrâneos do Cagliari, que a Internazionale disputara a finalíssima após perder fora de casa por 3×2 e vencer em casa por 3×0. A final foi contra o Salisburgo, da Áustria, após vencer as partidas em casa e fora por 1×0 para se tornar os bicampeões.
Esta foi a última temporada de Walter Zenga na Internazionale, que depois passou pela Sampdoria, havendo meio que uma troca entre ele e Gianluca Pagliuca, goleiro da seleção italiana vice-campeã da Copa do Mundo de 1994, que rumou para a Internazionale passado a Copa. Zenga jogou por duas temporadas no Sampdoria, depois se transferiu para o Padova, clube da Serie B, por onde atuou uma temporada. No meio do ano de 1997, se transferiu para o New England Revolution, clube da Major League Soccer, aonde ele jogou por dois anos, sendo em 1999 como jogador-treinador; durou um ano como jogador-treinador, quando aposentou as luvas do mundo do futebol.
Depois disto, Zenga virou treinador de equipes, não só do New England Revolution, como também de outras equipes. As que ele mais obtivera sucesso foram o Steaua Bucareste e o Estrela Vermelha, sendo que, com a equipe da Romênia, ganhara a primeira divisão romena de 2004/2005. Na temporada seguinte, com o Estrela Vermelha, venceu a Copa da Sérvia e a Supercopa da Sérvia com o Estrela Vermelha. O último time treinado por Zenga foi o Sampdoria, no ano passado.
E esta foi a décima-quinta edição do Muralhas Lendárias aqui no Goleiro de Aluguel! Espero que vocês tenham gostado da abordagem de Walter Zenga, um dos maiores goleiros da história italiana e que marcou época no final da década de 80 e começo da década de 90. Semana que vem o quadro volta abordando a carreira de mais um lendário goleiro, abraço e até o dia 15!
WALTER ZENGA PELA SELEÇÃO ITALIANA:
GRANDES DEFESAS DE WALTER ZENGA:
1 Comments
Fala pessoal, tudo bem? Me chamo Raphael Reis e tenho um canal no YouTube chamado “DOUTRINADORES DA BOLA”, onde falo sobre a vida e a obra dos atletas de ontem e hoje, futebol feminino e masculino. Estou para fazer um vídeo sobre Zenga e acabei achando o artigo de vcs. Parab[ens pelo belíssimo trabalho!!!