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Tamanho Não é Documento, Personalidade Sim!
Aposto que você espera que aqui no Muralhas Lendárias sempre vamos falar apenas de goleiros? Você está parcialmente enganado. Parcialmente? Sim! Pois hoje iremos falar de alguém memorável e inesquecível, Jorge Campos, muito mais que um goleiro, que marcou uma década por levar alegria no campo, fosse debaixo das traves ou no ataque. Sim, no ataque, Jorge Campos conseguiu marcar os goleiros e o futebol (principalmente o mexicano) de todas as maneiras possíveis, fosse nas posições, fosse nas características, fosse na simpatia e na beleza dos uniformes que usava.
Jorge Francisco Campos Navarrete (ou Jorge Campos, ou, até mesmo, somente Campos) nasceu na cidade de Acapulco, em 15 de outubro de 1966, e começou na carreira futebolística como meio-campista amador em 1982, no Interjap, mas com o decorrer daquele ano começou a jogar como goleiro e revezava as atividades entre jogador de linha e goleiro. Um ano depois se transferiu para o Delfines de Acapulco e chegou a treinar por três meses no tradicional Cruz Azul. Em 1985, ele virou goleiro do Pumas UNAM, sempre conciliando o futebol com o estudo, afinal Jorge Campos chegou a se formar em Administração de Empresas na Universidade Nacional Autônoma do México.
Em 1986, com vinte anos, Jorge Campos se profissionalizou e virou goleiro reserva do Pumas UNAM, mas só viria a se juntar com a equipe principal em 1988. O Pumas UNAM tinha um goleiro incontestavelmente titular na altura, Adolfo Ríos, com este cenário, Campos pediu ao técnico uma chance para jogar… como atacante do time! Você, técnico de um time, iria dar a chance a um goleiro para ser o atacante da sua equipe? Pois é, o técnico do Pumas UNAM e de Jorge Campos deu-lhe a chance na temporada 1989/1990, e… acredita que deu certo? Nesta primeira temporada como titular, Jorge Campos brigou pela artilharia, e marcou catorze gols na Liga do México e arrematou mais sete gols na Copa CONCACAF.
Na temporada seguinte, o goleiro Adolfo Ríos saiu do Pumas UNAM e rumou ao Veracruz, isto fez com que sobrasse uma vaga para goleiro, que finalmente seria preenchida pelo Jorge Campos, mas ele não deixou e nunca iria deixar o ataque de lado. Logo na primeira temporada como goleiro do Pumas, Jorge Campos já se saiu campeão nacional em uma época em que o Campeonato Mexicano era marcado por um glorioso mata-mata. Eram 20 equipes, divididas em quatro equipes de cinco, mas todas as equipes iriam jogar entre si em partidas de ida e volta; as duas melhores equipes de cada chave iriam para um mata-mata decisivo. O Pumas UNAM de Jorge Campos terminou em primeiro lugar na Chave B, após vencer 25 partidas, empatar cinco e perder oito (por sinal, o Pumas teve o melhor desempenho, não bastasse isto, Jorge Campos ainda foi o goleiro menos vazado). Nas quartas-de-final, o Pumas eliminou o Morelia, após vencer a ida por 1×0 e a volta por 5×1; se classificaram para a final após passarem pelo Puebla nas semifinais, mais uma vez vencendo a ida e a volta, primeiro por 2×0 e depois pelo placar mínimo. O Pumas se sairia campeão em cima do América, após perder a ida por 3×2 e vencer a volta em casa por 1×0, ganhando na regra dos gols fora de casa.
As boas atuações de Jorge Campos fizeram-no ter oportunidades na seleção mexicana logo em 1991, quando estreou no final daquele ano (20 de Novembro) pela seleção mexicana em amistoso contra o México, a partida terminou empatada em um gol. Depois desta partida, o pequeno goleiro de apenas 1,68m iria se tornar o titular absoluto e quase que indiscutível da seleção mexicana por nada mais nada menos que dez anos.
Nas próximas temporadas, Campos não tivera tanto sucesso juntos com os clubes, sendo que nas passagens pelo Pumas UNAM o único título esta da Primera División Mexicana de 1990/1991, na Copa México o Pumas nunca teve sorte, enquanto nos campeonatos nacionais sempre fora eliminados na fase de mata-mata. Apesar disto, Campos sempre teve várias boas atuações debaixo das traves, caracterizadas por um grande reflexo, impulsão e reposição de bola que o iriam garantir com o melhor goleiro do México e a titularidade das metas mexicanas guardadas para si em torneios internacionais.
Apesar de não ganhar títulos, Jorge Campos foi eleito o melhor goleiro do Campeonato Mexicano por três temporadas seguidas: 1992/1993, 1993/1994 e 1994/1995.
Foi logo assim, no começo da carreira, que Campos se destacou por algo muito além das quatro linhas, o estilo. Hoje alguns goleiros têm usados uniformes com cores fluorescentes, rosas, amarelos, verdes e/ou azuis bem vivos, cores que parecem uma caneta marca-texto. Com estes uniformes sempre tem aquela piadinha infame “quantas pilhas vai neste uniforme?”, e quando é o torcedor adversário cornetando “que uniforme é este, goleiro? Tá usando as pilhas no c***?”, pois é, no caso do Jorge Campos esta piadinha não iria cair bem, pois as cores usadas seriam necessárias uma bateria de 220V para tal.
O próprio Jorge Campos afirmou que as ideias para os uniformes dele vieram quando ele se deu conta que o goleiro podia facilmente ter a liberdade para se vestir como bem entender, trajando algo totalmente fora dos padrões, sobretudo dos jogadores. Quando jovem, disse que já rabiscava alguns modelos e assim se seguiu com o profissionalismo e decorrer da carreira. Ou seja, nada disto tem fundo de marketing por alguém, estes belos e carismáticos uniformes utilizados por Jorge Campos eram desenhados e criados por ele mesmo!
Mas voltando a falar da carreira deste mito. O primeiro torneio internacional que Campos participou com a seleção mexicana foi a Copa América de 1993 em que o México caiu no grupo C, junto com a Argentina, Colômbia e Bolívia: perdeu na estreia por 1×0 para os colombianos, empataram na segunda partida com os argentinos em 1×1 e empataram com os colombianos sem gols, terminando em terceiro lugar no grupo, na frente dos bolivianos apenas, por causa de um gol a mais. Mesmo com esta ridícula campanha, o México passou de fase como segundo melhor terceiro colocado, ainda se saíram melhor que a Venezuela por terem tomado menos gols (são três grupos com quatro equipes cada, os dois melhores de cada grupo se classificam e os dois melhores terceiros colocados). No mata-mata, o México engrenou, eliminou o Peru nas quartas-de-final vencendo por 4×2, nas semifinais eliminaram os equatorianos, donos da casa, por 2×0. A final fora contra a Argentina, saíram perdendo, empataram, mas a Argentina fez o segundo e sagrou-se campeã da Copa América (e nunca mais ganharam nada). O primeiro título de Jorge Campos com a seleção mexicana bateu na trave.
Naquele mesmo ano, Campos iria ganhar o primeiro título internacional com o México, a Copa Ouro da CONCACAF (torneio semelhante a Copa América, mas disputado entre países da América do Norte, América Central e Caribe) e o México de Jorge Campos ganhou com uma bela folga. Na fase de grupos, o México caiu no Grupo B, junto com Canadá, Costa Rica e Martinique e passou de fase após vencer a seleção de Martinique por 9×0 e do Canadá por 8×0, e teria mais um empate em um gol com a Costa Rica na chave. Nas semifinais, contra a Jamaica, mais uma grande goleada, por 6×1, que classificou os mexicanos a final, contra os vizinhos estadunidenses, e se sagraram campeões após aplicar um 4×0 nos conterrâneos, afinal México e Estados Unidos sediaram o torneio, mas a final fora realizada no México.
Um ano depois, Jorge Campos iria ganhar fama no mundo, pois viria a disputar mais um torneio internacional com a seleção mexicana, a Copa do Mundo de 1994. Neste torneio ele iria ganhar fama pois apareceu ao mundo inteiro; aquela Copa do Mundo já possuía vários uniformes bonitos, bem trabalhados e cheio de detalhes, mas o de Jorge Campos com certeza era algo único, os jogos em que o México participava, ele, sem dúvida, era o destaque, além de ter feito uma grande Copa do Mundo.
O México de Jorge Campos iria cair no Grupo E, junto com a Irlanda, Noruega e a Itália de Pagliuca. O México iria perder na estreia para a Noruega, por 1×0, Jorge Campos tomou o gol aos 40 do segundo tempo. A recuperação viria na rodada seguinte, após vencerem por 2×1 a Irlanda (mais uma vez, Campos tomou um gol aos 40 do segundo tempo, mas na altura o México já vencia por 2×0). Na última partida, um empate em um gol com os italianos. Estes resultados foram suficientes para classificar o México em primeiro lugar no grupo, afinal todas as seleções venceram uma partida, perderam uma e empataram outra, o que definiu foi o número de gols marcados (afinal, todas as seleções terminaram com o saldo zerado) e o confronto direto: o México terminou em primeiro pois foi a seleção que mais fez gols.
Apesar de uma renovada seleção, com um bom e carismático goleiro, o México repetiu os feitos de sempre em Copas do Mundo, ou seja, foram eliminados nas oitavas-de-final (desde a Copa do Mundo de 1994 até a de 2014, o México foi eliminado nas oitavas-de-final em todas estas as edições). O adversário foi a Bulgária, Jorge Campos fez uma grande partida e boas defesas, mas saíram perdendo logo aos seis do primeiro tempo, empatando logo em seguida com García Aspe em cobrança de pênalti. Um lance marcante nesta partida foi após cobrança de escanteio, a Bulgária quase marcou, mas o zagueiro Bernal salvou; entretanto, neste lance ele entrou com tudo para dentro do gol, se atrapalhou nas redes e desabou a sustentação, fazendo com que parte da trave caísse e fosse substituída no meio do jogo.
O jogo terminou empatado em 1×1 e seguiu-se na prorrogação e seria decidido nos pênaltis: García Aspe, autor do gol mexicano no jogo, chutou no travessão e por cima, mas o pequeno Campos levantaria os ânimos dos companheiros ao salvar a primeira cobrança búlgara, de Balakov (detalhe: foi uma boa cobrança e a bola ia bem no canto), mas pena que os ânimos levantados seriam por pouco tempo, pois logo na cobrança seguinte, Bernal errou mais um pênalti mexicano, com Mihaylov defendendo. Guenchev iria abrir o placar para os búlgaros, as coisas ficaram difíceis quando Rodríguez chutou mal, em cima de Mihaylov; após este pênalti, só gols, e a Bulgária eliminou os mexicanos, vencendo por 3×1 nos pênaltis.
Ao terminar aquela Copa do Mundo, Jorge Campos iria jogar no Atlante, outro time mexicano, por lá, atuara apenas uma temporada, mas fez um marcante feito. Jorge Campos, como já dito, começou como atacante e nos clubes ele tinha a característica de pegar a bola e sair jogando, puxando vários contra-ataques que resultavam em gols, às vezes gols dele próprio. E tinha coisas “melhores”, algo que talvez ninguém nunca tenha visto no futebol: o técnico do Atlante costumava tirar um jogador de linha e pôr o goleiro reserva, com isto, Campos trocava de camisa no meio do jogo, virava jogador de linha e ia para o ataque. E nesta temporada pelo Atlante, Jorge Campos jogou 38 jogos, marcou apenas um gol, em uma substituição assim, o técnico tirou um jogador de linha e colocou o goleiro reserva, colocando Jorge Campos no ataque e acreditem, Campos marcou um gol de voleio! Talvez o gol mais marcante da carreira dele.
Apesar desta característica de sair do gol puxando contra-ataques, cobrar faltas e pênaltis e virar jogador de linha no meio das partidas nos clubes, Jorge Campos nunca fez nada parecido na seleção mexicana, pois não tinha “autorização” para isto, tanto que ele marcou a seleção mexicana por muitas coisas, mas nunca fez um gol sequer pelo México.
Apesar de não aparecer muito mais nos clubes, Campos continuou a ser titular da seleção mexicana e o seria de novo em outra Copa Ouro da CONCACAF, agora em 1996. Nesta edição disputaram nove países, um deles era da América do Sul (CONMEBOL), o nosso Brasil! Primeira e única vez que participou de um torneio da CONCACAF, mas participou com um time Sub-23. O México caiu no Grupo A, junto com Guatemala e São Vicente e Granadinas, e venceram os dois jogos, por 5×0 de São Vicente e Granadinas na estreia e pelo placar mínimo contra a Guatemala.
O regulamento previa três equipes por chave, o primeiro colocado de cada grupo e o melhor segundo colocado geral se classificavam para a próxima fase e a melhor equipe na segunda colocação foi a Guatemala. O México enfrentou-os novamente, agora nas semifinais, e venceram novamente por 1×0. A final foi contra o Brasil, que havia vencido tudo e todos com o time Sub-23, mas que não foi páreo para o México de Jorge Campos, que venceu-nos por 2×0. Com este título, o México se classificou para a Copa das Confederações do ano seguinte, mas neste torneio, Campos não foi convocado, foram convocados outros dois grandes goleiros mexicanos ainda promissores: Óscar Pérez e Oswaldo Sanchez.
Neste mesmo ano, Jorge Campos também participou das Olimpíadas de Verão com a seleção mexicana. O México levou dois jogadores acima da idade olímpica, sendo Jorge Campos um deles. Entretanto não se saíram medalhistas, pois foram eliminados nas quartas-de-final para os futuros medalhistas de ouro, a Nigéria.
Depois deste torneio, Campos viria a participar de mais uma Copa do Mundo com o México, mais uma vez utilizando os belos uniformes que já tinha mostrado na Copa do Mundo anterior, em 1994. O México caiu em um grupo difícil, junto com as favoritas Bélgica e Holanda, além da Coréia do Sul. Na estreia, uma vitória por 3×1 sobre a Coréia do Sul, depois um empate em dois gols com os belgas; no último jogo, um jogão contra a Holanda, também terminado em 2×2: o México saiu perdendo por dois gols, mas buscou o empate e o conseguiu nos instantes finais. A Holanda tinha muito mais time que o México, mas os mexicanos jogaram com garra e com o coração, não mereceram sair derrotados desta partida. Nas oitavas-de-final, o de sempre, eliminados nas oitavas-de-final, agora para os alemães, perdendo por 2×1 de virada.
Após ter saído do Atlante em 1996, Jorge Campos rumou ao Los Angeles Galaxy dos Estados Unidos. No meio de 1997, rumou ao Cruz Azul e lá só jogou uma partida. Em 1998, rumou ao Chicago Fire e após a Copa do Mundo terminar, voltou para o Pumas UNAM, para mais uma temporada. Em 1999, Campos foi titular da seleção mexicana na Copa América de 1999: caíram no Grupo B, junto com o Brasil, Venezuela e Chile. O México venceu por 3×1 os venezuelanos, por 1×0 o Chile e perderam por 2×1 para o Brasil, terminando em segundo no grupo e se classificando para o mata-mata. Nas quartas-de-final, a classificação viria nos pênaltis, após um emocionante 3×3, a decisão nos pênaltis terminou 4×2 para o México, com dois peruanos isolando as cobranças. Nas semifinais, iriam perder novamente para o Brasil, após saírem derrotados por 2×0, mas ficariam com o terceiro lugar, após vencer o Chile por 2×1 na decisão pelo bronze.
Ainda em 1999, Jorge Campos viria a disputar a Copa das Confederações, em casa, a primeira fora da Arábia Saudita (as duas primeiras edições da Copa das Confederações foram na Arábia Saudita, com os jogos realizados no Estádio Rei Fahd, que por sinal o torneio recebia tal nome – “Copa Rei Fahd” – em 1997, virou “Copa das Confederações”, mas seguiu a mesma linha das duas edições anteriores. A partir de 1999 foi sediada em outro país, agora no México. A partir da edição de 2001, entrou no formato atual, realizada no país que vai sediar a Copa do Mundo no ano seguinte).
O México caiu no Grupo A, junto com Arábia Saudita, Bolívia e Egito. Venceram na estreia a Arábia Saudita por 5×1, empataram em dois gols com o Egito na segunda partida e venceram por 1×0 a última partida contra os bolivianos, se classificando em primeiro no grupo. Nas semifinais, contra os Estados Unidos, vitória pelo placar mínimo para garantir a vaga na final, mais uma final contra o Brasil. Na final, o México seria campeão após um emocionante 4×3 sobre o Brasil, que garantiu o título ao México e mais um de Jorge Campos. Com este título, o México também disputara a Copa das Confederações de 2001, mas Jorge Campos não fora convocado (e o México perdeu todas as partidas, sendo um fiasco nesta edição de 2001).
Jorge Campos também participou da Copa do Mundo de 2002, mas sendo terceiro goleiro, atrás de Óscar Pérez (titular) e de Oswaldo Sanchez, ele “usou” a camisa 23 e não jogou nenhuma partida neste mundial.
Depois do Pumas em 1998, Jorge Campos atuou pelo Tigres UANL, voltou ao Atlante, mais uma vez ao Pumas e encerrou a carreira no Puebla, em 2004. Campos atuou 130 vezes pela seleção mexicana e é considerado um dois maiores senão o maior goleiro mexicano da história (“maior”, por mais irônico que isto seja a alguém de 1,68m). Depois da vida de jogador, Campos virou auxiliar técnico de Ricardo La Volpe na seleção mexicana, cargo que ocupou até 2006, após eliminação do México para a Argentina na Copa do Mundo. Depois se tornou comentarista esportivo na TV Azteca, foi homenageado no desenho animado Super-Campeões com um personagem chamado Ricardo Espadas, goleiro e capitão da seleção mexicana. A curiosidade é que Jorge Campos também é dono de uma rede de fast-food, chamada Sportortas-Campos.
E esta foi a décima-nona edição do Muralhas Lendárias aqui no Goleiro de Aluguel! Espero que vocês tenham gostado da abordagem da carreira deste ícone que é Jorge Campos. O quadro veio com um leve atraso semanal, mas esta aqui para todos usufruírem da carreira deste grande goleiro. Na semana que vem, o quadro volta abordando a carreira de mais um lendário guarda-redes.
GRANDES DEFESAS DE JORGE CAMPOS:
GOL DE VOLEIO DE JORGE CAMPOS RELATADO NESTE ARTIGO: