Na Baliza #14 – Tom
07/02/2017Na Baliza #15 – Jeferson Romário
14/02/2017A História Tarda, Mas Não Falha!
Não é só o Brasil que tem os seus “Marcos” e “Rogério Ceni” da vida, que começam cedo na carreira do futebol e jogam até além dos 40 anos. O goleiro escolhido de hoje pode não se comparar com Marcos ou Rogério Ceni em termos de conquistas, história e até de técnica, até porque ele nunca jogou a carreira inteira em um clube só, mas, ainda sim, tem muita história para contar dentro e até fora das quatro linhas.
César Sánchez Domínguez, ou César Sánchez, ou simplesmente César, nasceu em Cória, na província de Cáceres, em 2 de setembro de 1971. César começou a carreira de futebol em Plasencia, cidade que fica a pouco mais de 43km da cidade natal dele. César começou a carreira no UP Plasencia em 1990, no ano seguinte iria se transferir para o segundo time do Valladolid, o Valladolid B, e por lá ficou mais um ano, quando se profissionalizou em 1992 e iria atuar pelo time principal do Real Valladolid.
No dia 24 de maio de 1992, César viria a realizar a estreia dele como profissional nos gramados em partida contra nada mais nada menos que o poderoso Barcelona de Andoni Zubizarreta, Michael Laudrup, Hristo Stoichkov e outros vários craques em partida válida pela 36ª rodada do Campeonato Espanhol. Alguns goleiros têm boas estreias, outros não, e a estreia de César é provavelmente a pior estreia como profissional de todos os goleiros que foram encontrados. César iria estrear pelo Valladolid e profissionalmente em uma derrota em casa por 6×0 para o Barcelona (César iria substituir o goleiro titular do Valladolid, Mauro Ravnić, no início do segundo tempo e iria sofrer quatro dos seis gols).
Nesta temporada de 1991/1992, o Valladolid seria rebaixado e Ravnić se transferiria para o Lleida, passando a titularidade das metas do Real Valladolid para César. Na primeira temporada como titular do Valladolid (1992/1993), César iria conseguir o acesso de volta à elite espanhola após terminarem em segundo lugar, atrás do Lleida de Ravnić, mas nada que tirasse o acesso do clube. Em 1993/1994, o Valladolid quase voltaria para a segunda divisão: ao terminar em 18º na La Liga, o Valladolid teve de participar de um play-off com o CD Toledo (quarto colocado na segunda divisão espanhola daquela temporada) para ver quem estaria na primeira divisão espanhola na temporada seguinte, jogando duas partidas de ida e volta. Na primeira partida, fora de casa, o Toledo venceria o Valladolid por 1×0, mas os pucelanos venceriam a volta em casa por 4×0 e conseguiriam permanecer na primeira divisão espanhola na temporada seguinte.
Em 1994/1995, o Valladolid iria ser rebaixado para a segunda divisão ao terminar em 19º lugar dentre vinte equipes. Entretanto, o Valladolid permaneceria na primeira divisão espanhola, pois Sevilla e o Celta de Vigo não forneceram a documentação necessária nem realizaram os pagamentos devidos para a Real Federação Espanhola de Futebol, como punição, Sevilla e Celta seriam rebaixados a Segunda Divisão B (terceira divisão espanhola). Assim, o Valladolid e o Albacete (equipes rebaixadas) permaneceriam na primeira divisão. Entretanto, o Sevilla e o Celta entraram na justiça comum e conseguiram permanência na primeira divisão espanhola. Nas próximas duas temporadas, a Real Federação Espanhola de Futebol anunciou que a La Liga seria realizada entre 22 equipes, e não 20 como tradicionalmente é.
César viria ter destaque maior no Valladolid na temporada 1996/1997, quando o Valladolid surpreendeu e conseguiu terminar em sétimo lugar na La Liga, se classificando para UEFA Cup (atual UEFA Europa League) da temporada seguinte. Este seria a primeira participação de César em um torneio internacional, aonde o Valladolid não passaria das prévias.
Entre 1995 e 2000, César não esteve presente apenas em quatro jogos do Valladolid no Campeonato Espanhol. Desde a virada de mesa até a temporada 1999/2000, o Valladolid não fora rebaixado, mas também não obteve grandes colocações na La Liga, sempre terminando na chamada “zona do agrião”, aonde não se conquista nada, mas não se perde nada. A melhor campanha foi a relatada da temporada 1996/1997, única vez que o Valladolid conseguiu se classificar para um torneio internacional com César sendo o goleiro do elenco.
Em 16 de agosto de 2000, César participou, como titular, de um amistoso com a seleção espanhola contra a seleção alemã. A Espanha perdeu por 4×1. Esta seria a estreia de César com a seleção espanhola e a “despedida” também. Em toda a carreira, esta seria a única participação de César pela seleção principal da Espanha.
Na temporada 2000/2001, César iria rumar para um dos maiores times da história, o Real Madri, afinal Illgner estava sofrendo demais com lesões e estava prestes a se aposentar, e o clube madridista precisava de um bom goleiro para suprir a baixa de Bodo Illgner, fosse para ser titular ou somente para ser reserva do ainda novato Iker Casillas. César começou na reserva de Casillas, mas com o tempo ganhou algumas oportunidades como titular. Nesta primeira temporada, foi campeão do Campeonato Espanhol e da Supercopa da Espanha, sendo que na decisão da Supercopa, César foi titular na partida de ida, em uma vitória fora de casa por 4×1 sobre o Zaragoza; na volta, o Real Madri aplicou 3×0 sobre o mesmo Zaragoza em casa para se sagrar campeão, mas o titular neste segundo jogo foi Casillas.
As grandes oportunidades como titular viriam na temporada 2001/2002, quando César, em algumas ocasiões, foi titular do Real Madrid de Vicente Del Bosque. Na primeira fase de grupos da UEFA Champions League daquela temporada, o Real Madri caiu no Grupo A junto com a Roma, o Lokomotiv Moscou e o Anderlecth e o Real Madri passou de fase após quatro vitórias, um empate e uma derrota, sendo que César foi titular nas três últimas rodadas desta fase de grupos, em partidas contra o Anderlecth (fora de casa, vitória por 2×0), contra a Roma (no Santiago Bernabéu, empate em 1×1) e contra o Lokomotiv Moscou (fora de casa, derrota por 2×0). Na segunda fase de grupos, o Real Madri caiu no Grupo C junto com Panathinaikos, Sparta Praga e o Porto de Vítor Baía, e a equipe madridista iria se classificar para a fase final de mata-mata após terminar em primeiro lugar no grupo após cinco vitórias e um empate, sendo que em apenas em uma destas seis partidas César atuou: na quarta rodada desta fase de grupos, uma vitória por 2×1 sobre o Porto no Estádio do Dragão.
Na fase de mata-mata da Champions, o técnico Vicente Del Bosque concedeu a titularidade para César ao invés de Casillas. Nas quartas-de-final, o Real Madrid iria desbancar o Bayern de Munique, a equipe que era atual campeã, após perder a ida na Olympiastadion por 2×1 e vencer a volta em casa por 2×0, passando graças ao placar agregado. As semifinais foram contra os rivais do Barcelona, quis o maldito sorteio que o duelo fosse logo nas semifinais e não em uma possível final. Na primeira partida, fora de casa, no Camp Nou, o Real venceu os rivais catalães por 2×0 e encaminhou a vaga para a final, que se concretizaria na volta em casa, após empate em um gol. A final seria contra o Bayer Leverkusen, da Alemanha, e o Real Madri viria a vencer o jogo por 2×1, com todos os gols saindo no primeiro tempo. César era o titular, mas foi substituído aos 23 minutos do segundo tempo, após um choque na perna esquerda em disputa de bola aérea com o zagueirão Lúcio. Casillas entrou no lugar e foi um dos grandes heróis do jogo junto com Zidane, pois ele realizou três grandes defesas no final do jogo. Aquele foi um dos jogos que mais alavancou a carreira de Casillas, pois ele ainda fora o titular da seleção espanhola na Copa do Mundo de 2002 (ele seria reserva, mas tornou-se titular após Cañizares lesionar-se no pé) e prosseguiria como titular indiscutível dos merengues. César seria reserva, sendo titular apenas em jogos da Copa Del Rey e em algumas outras ocasiões. Ainda que no banco, o ano de 2002 ainda traria os títulos da Supercopa da UEFA e o Mundial Interclubes a César.
Curiosidade: o Real Madri venceu o Bayer Leverkusen na final da UEFA Champions League 2001/2002. O time alemão conseguiu uma “tríplice-vice coroa” naquela temporada, sendo vice-campeão da Champions League, da Bundesliga e da DfB-Pokal (Copa da Alemanha). Ou seja, dentro de duas semanas, o Bayer Leverkusen perdeu três finais. Lembrando que o Bayer Leverkusen só ganhou, em toda a história do clube, apenas uma vez a DfB-Pokal e nunca foi campeão da Bundesliga nem da Champions League.
César ficou no Real Madri até 2005, sendo titular apenas em algumas ocasiões com os merengues, visto que Casillas virou o titular absoluto depois da final da UEFA Champions League. Na reserva, César ainda se sagrou campeão da La Liga de 2002/2003 além da Supercopa da Espanha de 2003. Ao término da temporada 2004/2005, César rumou para o Zaragoza.
Logo na primeira temporada pelo Zaragoza, César conseguiu chegar em uma final da Copa Del Rey (ele havia conseguido chegar no Real Madri na temporada 2003/2004, mas perdeu a final para o próprio Zaragoza que viria a defender depois). Nesta Copa Del Rey, o Zaragoza conseguiu eliminar o Alicante e o Xerez, respectivamente, nas prévias, o Atlético de Madri nas oitavas-de-final ao vencer a ida fora de casa por 1×0 e empatar em casa por 2×2. Eliminaram o Barcelona nas quartas-de-final, ao vencerem a ida em casa por 4×2 e perder a volta por 2×1, vencendo no placar agregado. A vaga para final viria após eliminar o Real Madri nas semifinais, ao vencerem por incríveis 6×1 na ida e perder por 4×0 na volta. Na final, o título não viria, perderiam a final para o Espanyol por 4×1.
A propósito, os únicos títulos da carreira de César aconteceriam todos no Real Madri. Já quebrando algum “clima” e adiantando um pouco a história.
Além desta final, o máximo que César conseguiu com o Zaragoza foi terminar em sétimo lugar na La Liga de 2006/2007 e até se classificaram para a UEFA Cup de 2007/2008, naquela foi a última temporada de César com a camisa do Zaragoza, em que los blanquillos foram rebaixados para a segunda divisão espanhola. Apesar disto, César continuou com boas atuações e viria a se transferir para o Tottenham Hotspurs, da Inglaterra, na temporada 2008/2009. Entretanto, pelo Tottenham, César mal jogou, ficou na reserva grande parte daquela temporada. Voltaria a jogar na Espanha na jornada seguinte, se transferindo para o Valência, para suprir, junto com Moyà, as baixas de Hildebrand e o brasileiro Renan.
Na primeira temporada no Valência, César passou mais tempo na reserva de Moyà. Na jornada 2010/2011, César obteve parte da titularidade, revezando com o novato Vicente Guaita. Em partida válida pela 30ª rodada da La Liga daquela temporada, César se tornou o goleiro mais velho a atuar em um jogo do Campeonato Espanhol, tendo 39 anos e 212 dias de vida na altura. O Valência venceu aquele jogo por 4×2.
Ao final daquela temporada, ele iria rumar ao Villareal. Em 10 de setembro de 2012, César estreou pelo Villareal em partida contra o Sevilla, substituindo Diego López no intervalo do jogo, neste jogo ele defendeu um pênalti de Negredo, mas tomou o gol no rebote. O jogo terminou empatado em 2×2 e César completou seu 400º jogo no Campeonato Espanhol na carreira, além de que se juntou a Carboni, Donato, Lowe e o goleiro Jacques Songo’o a uma singela lista de jogadores que atuaram em alguma partida da La Liga tendo mais de 40 anos.
E esta foi a trigésima-terceira edição do Muralhas Lendárias aqui no Goleiro de Aluguel! Espero que vocês tenham gostado da abordagem da carreira de César Sanchez, um dos mais experientes goleiros espanhóis, ainda que não tenha tido tanto destaque como Cañizares, Casillas e Zubizarreta, mas que também tem brilho e nome marcado na história do futebol. Semana que vem, o quadro volta abordando a carreira de mais um lendário goleiro. Até semana que vem!
MELHORES MOMENTOS DE CÉSAR SÁNCHEZ NO VALÊNCIA
GRANDES DEFESAS DE CÉSAR
ZARAGOZA 6 x 1 REAL MADRI: PARTIDA DE IDA DA SEMIFINAL DA COPA DEL REY 2005/2006
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