Qual o número da camisa que você usa? Vários goleiros preferem tradicionalmente usar a camisa número 1, mas sempre há suas variantes. Outros, como tem pego moda, gostam de usar o número 12, já outros goleiros usam os mais variados números, cada qual ao seu motivo, tais como Paulo Victor usando o número 48 em homenagem a mãe, já que 48 era a idade dela na altura, ou o Wilson usando o número 84 por causa do ano em que ele nasceu, talvez até Jorge Campos, que por muitas vezes usava o número 9 pois era comum ele jogar no ataque no meio do jogo, e também Vítor Baía, que usava o número 99 em sinal ao ano em que ele regressou ao Porto… O goleiro de hoje ficou marcado pelo número que ele usou na Copa América de 1997, que nós vamos tratar a seguir, mais pra frente.
Ignacio Carlos González Cavallo, mais conhecido como “Nacho” González, nasceu em 17 de dezembro de 1971 na cidade argentina de Sarandí. Nacho ingressou na base do Arsenal de Sarandí como atacante, mas aos onze anos o convenceram a ser goleiro. Ele saiu da base do Arsenal e foi para o Racing Club de Avellaneda, time aonde viria a se profissionalizar aos vinte anos de idade, em 1991.
Com o Racing, Nacho teve a experiência de viajar, ainda na base, de avião pela primeira vez, indo jogar na França com o time. Conta também que, junto com o também lendário Carlos Roa, pode dividir hotel com um dos maiores nomes que jogaram debaixo das traves argentinas, Sergio Goycochea. No Racing, Nacho conta que, nos primeiros anos, como terceiro ou até quarto goleiro do time, o único divertimento que tinha na semana eram os treinos e os jogos de treinamento. A estreia de Nacho na primeira divisão argentina, foi em uma partida em casa contra o Mandiyú, em uma derrota por 3×2, aonde ele entrou com dez minutos de jogo após o titular Carlos Roa ter sido expulso. Nacho conta que ouviu todos os xingamentos possíveis dos torcedores do Racing naquele jogo, o culpando pela derrota.
Com a saída de Roa para o Lanús em 1994, Nacho assumiu de vez a titularidade do Racing Club. Por lá, Nacho não conquistou títulos, mas calou a boca dos torcedores que o cornetaram na estreia dele, fez boas atuações e chegaria a ser convocado para a seleção principal da Argentina na Copa América de 1997, sediada na Bolívia. Depois daquela Copa América, Nacho iria para o Newell’s Old Boys, outro clube argentino.
No Racing, Nacho, mesmo sem títulos, fez história, ao se tornar o primeiro goleiro da história do clube a marcar um gol e o primeiro goleiro da Primera División Argentina a fazer dois gols em um só jogo (carece de fontes em quais gols foram estes jogos, mas sabemos que tudo isto Nacho protagonizou), ao todo, Nacho fez oito gols com a camisa do Racing Club de Avellaneda, todos de pênalti. No Torneo Clausura de 1996, Nacho protagonizou dois inesquecíveis momentos, um bom e outro ruim: o ruim é que ele tomou um gol de Bossio, do Estudiantes, em um empate em casa por 1×1. Bossio era o goleiro do Estudiantes, subiu na área nos acréscimos do jogo, em um escanteio e fez o gol, se tornando o primeiro goleiro da história do campeonato argentino a fazer um gol de cabeça. O momento bom que Nacho protagonizou foi na despedida do artilheiro Cláudio López do Racing (ele estava rumando ao Valência), em que Nacho salvou tudo, inclusive um pênalti do lendário Diego Armando Maradona no final de uma partida contra o Boca Juniors, em que o Racing venceu por 1×0 em casa, justamente com um gol de Cláudio López.
A Argentina, em muitos torneios internacionais, não fazia a numeração dos jogadores de acordo com a posição em que eles atuavam (como tradicionalmente é), e sim de acordo com o nome dos mesmos, de acordo com a ordem alfabética. A Argentina, nas duas Copas do Mundo em que se saíram vencedores (1978 e 1986) utilizou-se deste critério para a numeração dos jogadores, inclusive podíamos ver números um tanto “inconvenientes” tantos aos goleiros quanto aos jogadores argentinos, como na Copa de 1978, em que o goleiro titular da Argentina, Ubaldo Fillol, usava o número 5 e um meio-campista avançado usava o número 1; na Copa do Mundo de 1986, a história se repetiu, com um atacante usando o número 1 enquanto o goleiro titular, o lendário Nery Pumpido, usava a camisa 18 (Maradona, o camisa 10, usou a 10 por mera questão de sorte, afinal ele era o décimo na ordem alfabética dos jogadores).
A última vez em que a Argentina utilizou-se deste critério de numeração aos jogadores segundo ordem alfabética foi na Copa América de 1997, o único torneio internacional disputado por Nacho González com a seleção argentina. Nesta brincadeira de numeração segundo ordem alfabética, nada mais nada menos rendeu a Nacho González a camisa 10 da seleção da Argentina! Sim, um goleiro já foi o camisa 10 dos hermanos. Naquela Copa América, Nacho jogou apenas o jogo de estreia da seleção argentina no torneio, um empate sem gols com o Equador de Cevallos. Depois, ele ficaria na reserva de Carlos Roa. A Argentina seria eliminada nas quartas-de-final daquela Copa América.
Após aquela Copa América, Nacho voltou a atuar pela seleção argentina para as eliminatórias da Copa do Mundo de 1998, mas só ficaria por isto mesmo, pois em um jogo das eliminatórias das seleções sul-americanas para a Copa da França entre Argentina e Bolívia, o clima esquentou e jogadores das duas equipes se desentenderam, e Nacho foi o mais prejudicado com isto após ter metido uma cabeçada em um jogador boliviano, recebendo uma dura punição de perda de jogos. Com isto, ele nunca mais jogou pela seleção principal argentina. A Argentina perdeu aquele jogo para os bolivianos – o jogo foi na Bolívia.
Depois do Racing e por uma passagem de uma temporada no Newell’s Old Boys, Nacho se transferiria para o UD Las Palmas para a temporada 1998/1999, que na época se encontrava na segunda divisão espanhola. Porém, na primeira temporada, Nacho ficou mais na reserva do Las Palmas e foi emprestado para o Pachuca na temporada 1999/2000. No Pachuca, Nacho iria conseguir o primeiro título da carreira, ao se sagrar campeão do Torneo Apertura de 1999, após o Pachuca se salvar na repescagem e ir passando de fase em fase no mata-mata até a final contra o Cruz Azul, aonde se sagraram campeões após empatar em casa em dois gols e vencer fora de casa por 1×0. Na temporada seguinte, Nacho voltou ao Las Palmas.
No Las Palmas de volta, Nacho não conquistou títulos. Na primeira temporada com o Las Palmas, agora na primeira divisão espanhola, conseguiu terminar apenas em décimo-primeiro lugar e na La Liga de 2001/2002, o Las Palmas foi rebaixado novamente para a Liga Adelante. Apesar disto, Nacho saiu como ídolo do Las Palmas pelas atuações boas e por causa dos gols: Nacho fez seis gols pelo Las Palmas, todos de pênalti; inclusive em partida válida pela 35ª rodada da La Liga de 2000/2001, o Las Palmas empatou fora de casa com o Osasuna em 3×3, sendo que Nacho fez dois gols de pênalti neste jogo.
Após o rebaixamento do Las Palmas, Nacho saiu do clube e voltou para a Argentina: jogou no Estudiantes na primeira metade de 2003 e no Nueva Chicago na segunda metade. Em 2004, iria rumar ao Unión Espanhola, do Chile, por lá teve grande destaque com a equipe chilena e chegou a ser campeão do Torneo Apertura de 2005. Entretanto, durante o Torneo Clausura daquele ano, Nacho agrediu o árbitro Enrique Osses e foi suspenso por vários jogos, o que foi decisivo para a saída de Nacho do clube chileno em 2005. Ele só voltaria a atuar em 2006, na equipe em que começou na base, o Arsenal de Sarandí. Por lá atuou apenas meio ano, se transferiu para o Las Palmas novamente na temporada 2006/2007 e por lá passou mais duas temporadas até encerrar a carreira.
E esta foi a trigésima-quarta edição do “Muralhas Lendárias” aqui no blog do Goleiro de Aluguel! Espero que vocês tenham gostado da abordagem da carreira de Nacho González, que ficou marcado por ser um bom pegador de pênaltis, pelos gols de pênalti que marcava e por conseguir usar a camisa 10 da seleção principal da Argentina na Copa América de 1997, ainda que fosse um goleiro. Semana que vem, o quadro volta abordando a carreira de mais um lendário goleiro. Até lá!
RACING 1 x 0 BOCA JUNIORS – CLAUSURA 1996
TODOS OS GOLS DE PÊNALTI DE NACHO GONZÁLEZ PELO UD LAS PALMAS
1 Comments
olha, com relação à numeração fixa da argentina, ela foi total em 1978. Em 1982, o Maradona exigiu a 10 e a teve, trocando com o jogador original. Já em 1986 foi uma numeração fixa mais ou menos, pois os craques exigiram seus números. Assim, Maradona teve a 10, Valdano a 11 e Passarela (machucado, não jogou) ficou com
a 6.
//en.wikipedia.org/wiki/1986_FIFA_World_Cup_squads#_Argentina