Na Baliza #12 – Mateus Pasinato
25/01/2017Na Baliza #13 – Gerson
31/01/2017Atacantes Podem Ser Parados, uma Torcida Não
Tem algo mais saudável e engraçado no futebol que provocações e zueiras? Eu creio que não, isto é algo que faz parte do futebol, algo que torcedores tem de saber lidar, mas principalmente os jogadores, que estão lá dentro do campo e com uma torcida inteira xingando até a oitava geração dele. Goleiro talvez seja o que mais se ferra neste quesito, afinal a torcida que fica atrás do gol tem um “prato cheio” para descontar toda a raiva da semana em alguém, e este alguém é o goleiro. Ou seja, a “profissão goleiro” é ingrata em todos os sentidos.
Deixando tudo o que nós já estamos mais carecas que o São Marcos de saber, o Muralhas Lendárias pode ser dito que será dividido em duas partes, a primeira, hoje, estará abordando a carreira de Ricardo Pinto, que, enquanto goleiro do Atlético Paranaense, sofreu um incidente com a torcida do tricolor carioca que basicamente acabou com a carreira dele. Semana que vem, nós iremos abordar a carreira de um lendário goleiro que substituiu Ricardo Pinto após a saída dele do furacão.
Ricardo Pinto nasceu em 23 de janeiro de 1965, na cidade capixaba de Cachoeiro de Itapemirim, e começaria a carreira em 1982 na Associação Desportiva Ferroviária, clube da região metropolitana da capital do Espírito Santo, Vitória. Por lá, Ricardo ficou dois anos, até se transferir para a base do Fluminense.
Em 1986, ainda na base do Fluminense, Ricardo Pinto conquistou algo que nenhum outro goleiro brasileiro abordado aqui no “Muralhas Lendárias” conquistou: a Copa São Paulo de Futebol Júnior. O Fluminense caiu no Grupo F do torneio junto com o Guapira, Palmeiras e Santa Cruz e iriam passar de fase após perder na estreia para o Santa Cruz por 2×0 e vencer do Guapira por 2×1 e do Palmeiras por 1×0, terminando em segundo lugar na chave, se classificando às oitavas-de-final. Nas oitavas, o tricolor eliminou o Santo André ao vencê-los por 1×0, venceram o Bangu nas quartas-de-final ao ganhar dos conterrâneos de estado por 2×0, venceram o América de São Paulo por 1×0 nas semifinais e na finalíssima venceram a Ponte Preta por 2×0 no tradicionalíssimo estádio do Pacaembu para se sagrar os campeões daquela Copinha. Por sinal, o Fluminense foi o primeiro clube a conquistar a Copinha por quatro vezes (atualmente, o Fluminense tem cinco títulos da Copa São Paulo de Futebol Júnior, perdendo apenas para o Corinthians, que detém dez títulos, o último conquistado dois dias antes da publicação deste artigo). Em 1987, Ricardo Pinto se profissionalizaria como goleiro.
Pena que hoje a Copinha pra pouco serve, nos últimos anos a Federação Paulista de Futebol só quer saber em vender (a última coisa que as federações de futebol do Brasil querem é futebol, eles só querem saber de vender e arranjar patrocínio), a Copa São Paulo se perdeu nos formatos e tamanhos, cada ano que passa o regulamento fica mais ridículo, pois só querem colocar times a fim de vender, deixando a qualidade do torneio pra escanteio. A Copinha, que antes era a maior vitrine de jogadores do Brasil, hoje apenas transforma jogadores em produtos, pouco se vê hoje jogadores que saem da Copinha e despontam no cenário nacional (como Djalminha, Júnior Baiano, Fred, Edu e o goleiro Dida no passado), o empresariado simplesmente tomou conta de tudo, aonde os próprios empresários montam o time para vender os jogadores pra fora depois. Enquanto antes os times que jogavam a Copa São Paulo utilizavam como base para o ano seguinte ou até no mesmo ano, hoje é um caso ou outro que se vê de jogadores que jogam a Copinha por um time e despontam no elenco principal em seguida; recentemente, eu só consigo me lembrar do Felipe Vizeu no Flamengo em 2016 (e olhem que o Flamengo foi campeão nesta edição e o Felipe Vizeu pouco atuou).
No polêmico ano de 1987 (que é do Sport ou do Flamengo?), Ricardo Pinto ficou na reserva do goleiro Paulo Vitor, tendo as oportunidades como titular no ano de 1988. No Campeonato Carioca de 1988, o Flamengo viria a conquistar a Taça Guanabara e o Vasco da Gama de Acácio da Taça Rio; entretanto tinha o terceiro turno, que reuniria os campeões das Taças Guanabara e Rio e mais os dois melhores na classificação geral. Como o Fluminense teve a melhor classificação geral depois de Vasco e Flamengo, se classificou ao último turno também junto com o Americano, mas o título não veio. No Brasileirão daquele ano, o Fluminense terminou o Grupo A do primeiro turno como líder e a segunda melhor colocação geral. No segundo turno, teve a pior campanha do mesmo grupo, mas já estava classificado para a fase de mata-mata, aonde enfrentariam os rivais vascaínos e passariam às semifinais após vencer a ida por 1×0 e vencer a volta por 3×2 (após terminar perdendo a volta por 2×1, o Fluminense virou o jogo na prorrogação). Nas semifinais, seriam eliminados para o Bahia, os futuros campeões, após empatar sem gols em casa e perder na Fonte Nova por 2×1.
Depois de dois anos com campanhas medianas e ruins, Ricardo Pinto só voltaria a ter campanhas de destaque no Flu em 1991, quando o Fluminense venceu a Taça Guanabara e terminou em quarto na Taça Rio, se classificando para a finalíssima contra o Flamengo, mas o título não viria: após empatar em um gol a ida, o Flu perdeu por 4×2 a volta e saiu-se vice. No Brasileirão daquele ano, o Fluminense terminou em terceiro lugar na primeira fase, se classificando para as semifinais, fase aonde foram eliminados para o Bragantino, após perderam a ida em casa por 1×0 e empatar fora de casa em um gol.
Após o Cariocão de 1992, Ricardo Pinto se transferiu para o Cerro Porteño, mas por lá não durou muito devido a concorrência primeiro com Goycochea (não, não é aquele que era goleiro da argentina, é outro Goychochea) e o também lendário Faryd Mondragón. No meio de 1993, Ricardo Pinto voltou para o Brasil para jogar o restante daquele ano no Americano. Em 1994, ele jogou no União São João de Araras até o meio do ano, quando se transferiu para o Corinthians na segunda metade de 1994 para ser reserva de Ronaldo Giovanelli e por lá ficou mais um ano, atuou em catorze partidas pelo Corinthians e sofreu dezesseis gols (dados encontrados nos registros corinthianos). Na reserva de Ronaldo Giovanelli, ele se consagrou campeão do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil, ambos os títulos em 1995.
No meio de 1995, Ricardo Pinto se transferiu para o Atlético Paranaense, que se encontrava na segundona nacional.
A fórmula de disputa daquela segunda divisão era: 24 equipes divididas em quatro grupos de seis times, os quatro melhores de cada grupo passavam para uma nova fase, seriam divididos em quatro grupos com quatro times cada e os dois melhores de cada grupo seguiriam vivos. Restariam oito equipes, divididas em dois grupos com quatro times cada, os dois melhores de cada chave iriam para o grupo final, aonde os dois melhores deste grupo final ganhavam acesso para a primeira divisão do ano seguinte. O Atlético de Ricardo Pinto passou em primeiro lugar em todos os grupos, inclusive na fase final, se sagrando campeão daquela segundona. A equipe que terminou em segundo lugar naquele grupo e ganhou o acesso também, foram os rivais do Coritiba.
No Paranaense de 1996, o Atlético até estava bem, mas acabou pipocando no final do campeonato, deixando o título escapar, aonde o campeão seria o Paraná Clube. O Brasileirão de 1996 marcaria a carreira de Ricardo Pinto, pois, basicamente, seria o final da carreira dele. Na 20ª rodada daquele Brasileirão, o Atlético iria jogar fora de casa contra a primeira equipe da carreira profissional de Ricardo Pinto, o Fluminense, o Atlético estava no topo da tabela e próximo da classificação para a fase de mata-mata enquanto o Fluminense lutava para não cair para a Série B. O Fluminense saiu ganhando, mas o Atlético virou e chegou a fazer 3×1, o Fluminense ainda iria diminuir para 3×2.
Ricardo Pinto estava provocando a torcida do Fluminense (ele diz que não provocou a torcida rival durante o jogo). O Fluminense teve escanteio e o goleiro tricolor, o uruguaio Leo Percovich, subiu para tentar o gol, não conseguiu e ainda agrediu Ricardo Pinto, mas se safou apenas com o amarelo. Após o fim do jogo e vitória do Atlético Paranaense por 3×2, o furacão ficava na liderança do Brasileirão até aquele momento, enquanto o Flu estava em último lugar. Ricardo Pinto comemorou a vitória e batia no peito com todo fervor… Aconteceu que a torcida do Fluminense invadiu o campo e começou um verdadeiro show de cenas lamentáveis, a chinela cantou nas Laranjeiras e os torcedores estavam a agredir os jogadores do furacão, mas o principal alvo deles era um: Ricardo Pinto. O goleiro homenageado nesta edição desta coluna maravilhosa ainda saiu para tentar agredir alguns torcedores, mas ele acabou tomando uma sova, inclusive um torcedor estava com um radiotransmissor e espancou ele com o objeto. Ricardo Pinto saiu desacordado e carregado pelo goleiro reserva do Atlético, Ivan, e mais parte da comissão técnica atleticana, foi direto para o hospital um grande corte na cabeça. Ricardo Pinto ficou três meses parado e perdeu o restante daquele Brasileirão em virtude de uma lesão no cérebro causada pelo agressor.
Ricardo Pinto foi substituído por Ivan ao restante daquele ano. Voltou a jogar em 1997, mas nunca mais no nível em que jogava, a carreira dele nunca mais foi a mesma e acabou perdendo a posição para… o goleiro que vamos abordar semana que vem (se é que você já não sabe qual goleiro é). Ricardo Pinto saiu do Atlético em 1998 e jogou depois (nesta ordem) no Inter de Limeira, no Iraty, teve uma breve passagem pelo Goiás (aonde disputou 21 partidas) e, ao final de 1999, aposentou-se no Joinville.
Depois de aposentar as luvas, Ricardo Pinto trabalhou como treinador das categorias de base do Atlético Paranaense e, em 2005, trabalhou como treinador de uma equipe principal, o Operário de Ponta Grossa. Trabalhou como treinador em vários times, sendo que o maior dos times que ele trabalhou foi o Paraná Clube, em 2011, mas por pouco tempo ficou e o Paraná fez uma campanha ridícula, sendo que ele foi um dos principais responsáveis para que o Paraná Clube fosse rebaixado no Campeonato Paranaense daquele ano. A última equipe que ele treinou, foi o Batatais, em 2013.
Em 2012, Ricardo Pinto se candidatou a vereador em Curitiba pelo PSC, mas não conseguiu 1500 votos e não foi eleito.
Após aquela confusão, Ricardo Pinto nunca mais voltou as Laranjeiras, ele explicou o porquê: “Já estavam jogando pilhas e outras coisas em mim antes de o jogo terminar. As pilhas vinham com tanta força que furavam o gramado. Se me acertassem, eu já teria ido para o hospital antes. Chamei o juiz, avisei, disse que não havia segurança e ele não me deu atenção. O goleiro do Flu (Leo Percovich), aquele louco, saiu da área dele para me agredir nos escanteios. Não revidei. Claro que retardei o jogo em alguns momentos, não sou bobo. Não queria que o Flu caísse, mas queria ganhar. Depois daquele dia, nunca mais pisei nas Laranjeiras. Não foi por falta de vontade ou oportunidade. Mas eu sabia que chegaria lá e só falariam da briga. Minha história no Flu é muito maior do que isto. Esse fato me deixa triste e até hoje não voltei ao Flu por causa disto”. Apesar de tudo, Ricardo Pinto afirma não guardar mágoas do agressor que atrapalhou a carreira dele.
E esta foi a trigésima-primeira edição do “Muralhas Lendárias” aqui no Goleiro de Aluguel! Espero que vocês tenham gostado da abordagem da carreira de Ricardo Pinto. Semana que vem, o quadro volta abordando a carreira de mais um lendário goleiro, o goleiro que substituiu ele no Atlético Paranaense depois que ele se transferiu para o Inter de Limeira em 1998. Até semana que vem.
FLUMINENSE 2 x 3 ATLÉTICO PARANAENSE: 20ª RODADA DO BRASILEIRÃO 1996 – JOGO QUE MAIS MARCOU A CARREIRA DE RICARDO PINTO
GRANDES DEFESAS DE RICARDO PINTO: